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Carlito Carvalhosa cria 'floresta deitada'

Artista usa 70 postes em instalação que inaugura área para mostras temporárias do MAC-USP, no antigo Detran

Exposição 'Sala de Espera', no anexo do museu, sofreu com atrasos de quatro anos na reforma do espaço

SILAS MARTÍ DE SÃO PAULO

É uma "floresta deitada", de "coisas que já foram árvore". Carlito Carvalhosa vê desse jeito os 70 postes de madeira que montou atravessando o anexo do Museu de Arte Contemporânea da USP.

A megainstalação, no prédio logo atrás do antigo Detran, inaugura com uma espécie de choque o espaço para mostras temporárias da nova sede do MAC-USP.

No caso, seria o embate entre os eucaliptos transformados em postes com as colunas de concreto da arquitetura modernista de Oscar Niemeyer, que projetou o prédio.

"Quero essa relação radical com o espaço", diz Carvalhosa. "Quando você vê essas colunas, esse infinito, parece uma praia num dia nublado. É uma arquitetura que aponta para o futuro, como se guardasse uma pureza que a cidade já não tem mais."

Essa pureza aqui é desafiada. Carvalhosa não disfarça que suas hastes de madeira eram postes, sublinhando a memória desses objetos em contraste com a pretensão neutra dos espaços modernos, sempre brancos.

Nessa praia em dia nublado, Carvalhosa armou uma tempestade que turva a visão, linhas angulosas que penetram na massa das paredes e se escoram nas colunas em pontos de maior ou menor densidade, dependendo de quantos postes se cruzam ali.

Visto de longe, o emaranhado de linhas brancas e marrons parece flutuar, uma "ascensão enigmática", nas palavras do artista. É sua resposta à "latência" de um lugar onde algo parece estar sempre prestes a acontecer.

Não por acaso, o artista chama de "Sala de Espera" a mostra. É um nome que ganhou outra camada de significado quando se leva em conta os repetidos atrasos no cronograma do MAC, que abriu quatro anos depois do previsto e adiou em seis meses a exposição do artista.

MEMÓRIA ESMIUÇADA

No mezanino do anexo, Mauro Restiffe exibe uma série de fotografias que fez desse espaço e do prédio principal ao longo da reforma que transformou o Detran em museu, esmiuçando a memória do lugar, agora atravessado por dezenas de postes.

Carvalhosa, aliás, fez de sua obra uma série de intervenções que rejeitam ou exacerbam os elementos da arquitetura em que estão abrigadas, estruturas frágeis ou rebeldes contra o espaço.

Ele já transplantou árvores vivas ao interior de um palácio em Salvador, encheu de luzes um antigo hotel do centro paulistano, replicou as formas do Pão de Açúcar dentro do Museu de Arte Moderna do Rio e cobriu com uma enorme cortina branca o átrio da Pinacoteca, em São Paulo, e do MoMA, em Nova York.

Quando da mostra americana, seus véus foram criticados pelo "New York Times" pela execução precária da obra e certa ingenuidade na concepção, um labirinto esbranquiçado menos eficaz que as estruturas metálicas de um escultor como Richard Serra e obras clássicas do minimalismo norte-americano, segundo a visão do crítico.

"É uma tradição americana da crítica, de cobrar efetividade e desempenho das obras", rebate o artista. "O cara é o crítico e tem a opinião dele, tenho que respeitar."


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