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Emirados fazem bienal voltada ao sul

Curadora Yuko Hasegawa foca em arquitetura e artistas de Ásia, África e América Latina para tratar de memória

Maior mostra de arte contemporânea do Oriente Médio abre hoje em Charjah e sucede edição polêmica de 2011

SILAS MARTÍ DE SÃO PAULO

"É possível estar calmo e quieto mesmo no meio da tempestade." Yuko Hasegawa defende com essa imagem sua estratégia pacífica para a Bienal de Charjah, que a curadora japonesa abre hoje nos Emirados Árabes Unidos.

Seguindo uma edição polêmica, que aconteceu no calor da Primavera Árabe,

Hasegawa quer reestruturar a mostra com um foco na arquitetura e um elenco de artistas do que chama de "sul global": Ásia, África, Oriente Médio e América Latina.

Do Brasil, estão escalados artistas de peso, como Ernesto Neto, Cinthia Marcelle, Lucia Koch, Tamar Guimarães, Sara Ramo, Cao Guimarães e Pablo Lobato.

Estrelas internacionais, exceções do circuito sul-sul, como o norte-americano Matthew Barney e o dinamarquês-islandês Olafur Eliasson, também estarão na mostra.

"Não quero falar de questões árabes, isso já foi feito aqui", diz a curadora, em entrevista à Folha. "Quero algo mais efêmero, uma tentativa de resgatar as memórias recentes que se perderam com essa tempestade política."

De fato, a Bienal de Charjah tenta reerguer-se depois da turbulência. Na última edição, a de 2011, uma obra foi censurada e removida da mostra. O episódio acabou conduzindo à demissão do diretor artístico Jack Persekian e colocando em xeque a liberdade de expressão na mostra.

Artistas da última edição também protestaram em plena abertura da exposição contra o envio de tropas dos Emirados Árabes Unidos a Bahrein, na tentativa de conter um levante contra o governo local. Um artista chegou a ser preso.

RECONSTRUÇÃO

Longe do conflito, a japonesa Hasegawa assume a Bienal de Charjah num momento de reconstrução.

Todo o centro da cidade -sede do emirado homônimo, um dos sete que compõem o país e que faz divisa com o emirado de Dubai- foi reformado para receber uma série de intervenções arquitetônicas ambiciosas, como a redoma de plástico desenhada pela dupla japonesa Kazuyo Sejima e Ryue Nishizawa, juntos no escritório Sanaa.

Espaços tradicionais da arquitetura árabe, como os pátios abertos das construções, vão se tornar pontos de encontro entre as obras. Lucia Koch, por exemplo, planeja uma intervenção ao longo de um corredor, enquanto Sara Ramo deve ocupar um andar inteiro de um banco desativado com sua instalação.

"Estou ligando a ideia de memória a esses gestos públicos de construção", diz Hasegawa. "Essa parte do mundo sempre foi uma rota de comércio e de trocas intensas. Quero resgatar essa memória num momento em que as migrações entre África e Ásia vêm ganhando mais força."

Nesse ponto, Hasegawa também joga luz sobre a ascensão de um circuito global emergente nas artes visuais, em que mostras como as bienais de Charjah, Istambul e Moscou, que acontecem neste ano, desafiam a hegemonia dos grandes centros.

Com maior ou menor ousadia, a mostra dos Emirados Árabes Unidos já cavou seu espaço no disputado calendário de feiras e mostras. Mas também contrasta com o destino incerto das faraônicas construções do Louvre e do Guggenheim no emirado de Abu Dhabi, que ainda mal saíram do papel por causa dos estragos da crise econômica.


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