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Crítica drama

Cenário tem papel decisivo na narrativa de "A Marca da Água"

LUIZ FERNANDO RAMOS CRÍTICO DA FOLHA

O poder do teatro. "A Marca da Água", última criação da Armazém, coroa os 25 anos de uma companhia que vem mantendo um nível de excelência raro. Ao enfrentar o complexo tema da relação mente-cérebro, o grupo apresenta um espetáculo primoroso, que com um misto de simplicidade e sofisticação engrandece a arte cênica.

A história contada é a de uma mulher que fez três cirurgias no cérebro entre a infância e a adolescência e, na meia idade, percebe os sintomas daquela doença retornarem. Desta vez, ela decide evitar os cuidados médicos e lidar solitariamente com seus lapsos, sons internos, alucinações e armadilhas que a memória lhe prepara.

Na encenação de Paulo de Moraes desta narrativa pesa muito mais o como tudo é contado do que qualquer viés melodramático ou psicológico. Ao lado de Maurício Arruda de Mendonça, fiel parceiro de outras boas dramaturgias, o diretor consegue evitar os riscos do didatismo e narra principalmente com a materialidade da cena.

O seu cenário é decisivo nessa operação. Com um fundo recortado em nichos, que ora recebe imagens projetadas, ora aceita a vibração dos reflexos de uma piscina cavada no palco, sugere concretamente o espaço de um cérebro cujos regime de águas está colapsando.

Imprescindível para a eficácia da curva dramática é o desempenho visceral dos intérpretes, sobretudo da protagonista, Patrícia Selonk, que excede seu habitual talento e fulgura.

Como o enredo permite, as situações transbordam de qualquer realismo e se sustentam menos nos diálogos do que nas ações realizadas.

Os três atores e duas atrizes molham-se e secam-se seguidas vezes, saem e entram das situações mais improváveis, sempre atravessados por um fluxo de energia física que desfaz qualquer psicologia, como metáforas vivas da fluidez sem fronteiras do elemento água.

Nesse arrojo de corpos e materiais soltos, a complexidade da relação entre neurônios e pensamentos se deslinda em um discurso poético e concreto, matéria bruta falando mais alto, ou alcançando mais longe que as explicações científicas.

O melhor exemplo da força dessa retórica sem palavras ou sentidos óbvios se dá quando todos tocam juntos seus acordeões.

É um momento de grande beleza, até porque nele a cena se torna pura música e restaura potências esquecidas da teatralidade. É uma experiência imperdível.

A MARCA DA ÁGUA
QUANDO sex. e sáb., às 21h; dom., às 18h; até 24/3
ONDE Sesc Santana (av. Luiz Dumont Villartes, 579, Jardim São Paulo, tel. 0/xx/11/2971-8700)
QUANTO de R$ 6 a R$ 24
CLASSIFICAÇÃO 12 anos
AVALIAÇÃO ótimo


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