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O escrete de 70
Seleção de escritores que irá representar o Brasil na Alemanha inclui estilos variados e é alvo de críticas
É um dos momentos mais difíceis da organização dos países convidados de honra da Feira do Livro de Frankfurt, costuma dizer Juergen Boos, o presidente do maior evento editorial do mundo.
A seleção de autores levados pelo governo para representar o país na feira sempre dá margem a críticas -afinal, é o time cuja obra, na teoria, o país chancela como representativo de sua produção.
Ontem, o comitê organizador da participação brasileira divulgou, em evento na Alemanha, os 70 escritores que viajarão a convite do Ministério da Cultura para a Feira de Frankfurt, em outubro.
É uma seleção ampla, que inclui best-sellers (Paulo Coelho, Mauricio de Sousa), imortais (João Ubaldo Ribeiro, Ana Maria Machado), poetas celebrados pela crítica e com leitores restritos (Francisco Alvim, Alice Ruiz), historiadores (José Murilo de Carvalho, Lilia Schwarcz) e a nova geração (Daniel Galera, Michel Laub), entre outros.
É perceptível a intenção de selecionar autores de todo o país, de ambos os sexos e de estilos variados, embora, no geral, a cara do Brasil em Frankfurt seja a de um ficcionista homem de mais de 50 anos e morador do eixo Rio-São Paulo -reflexo, é possível dizer, da concentração do mercado nacional na região.
A curadoria foi realizada por Manuel da Costa Pinto, colunista da Folha, Antonio Martinelli, do Sesc-SP, e Maria Antonieta Cunha, da Fundação Biblioteca Nacional.
Galeno Amorim, presidente da Biblioteca Nacional e do comitê organizador da participação brasileira -por cujo crivo passaram os nomes-, diz que "não se deve confundir com a lista de jogadores da seleção brasileira".
"Quisemos contemplar a diversidade e a pluralidade da leitura e da literatura no país", disse ele ontem, por telefone, à Folha - estava na Feira de Leipzig, evento alemão que abre as comemorações dessa espécie de "ano do Brasil em Frankfurt".
Não foi o que acharam, é claro, autores que ficaram de fora, como João Silvério Trevisan, Marcelo Mirisola e João Paulo Cuenca -embora este último tenha elogiado a lista.
"Tinha praticamente certeza de que não seria escolhido. Não faço parte da lista de autores privilegiados brasileiros", afirma Trevisan, que já foi traduzido para Alemanha, Espanha e Inglaterra, um dos critérios para a seleção do comitê.
"Esse tipo de lista privilegia quem está na mídia, quem é da Companhia das Letras, dos grupos universitários. Faz muito tempo que o valor da obra não significa nada."