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Tráfico é pano de fundo em curta feito por brasileiro

FRANCESCA ANGIOLILLO

O cineasta brasileiro Mauricio Osaki, 32, escreveu e dirigiu o curta-metragem "O Caminhão do Meu Pai". O filme, que foi exibido na última edição do Festival do Rio e fala da relação entre uma menina vietnamita e seu pai, tem como pano de fundo o comércio de cães para abate no país.

De Hanói, onde esteve na semana passada para apresentar o curta à equipe e ao elenco, ele contou à Folha ter escolhido filmar no Vietnã por ver no país uma "mescla de culturas" semelhante à do Brasil.

Osaki conheceu o Sudeste Asiático ao fazer mestrado em Cingapura e diz ter se interessado pela "mudança de valores nas novas gerações" causada pela modernização na região. "Isso tem um impacto cultural em todos os âmbitos e, logo, na alimentação também".

Folha - Em sua pesquisa, você visitou abatedouros e falou com comerciantes de carne canina. Para eles, um cão é exatamente igual a uma vaca ou um porco?
Mauricio Osaki - Pelo que eu vejo aqui eles entendem que cada animal tem uma condição e uma função bem distinta, que vai da ajuda no trabalho do campo e passa pela alimentação. A carne canina é uma iguaria, no entanto muitos abatedores também usam cachorros como animais de guarda e de estimação. Um dos fazendeiros com quem conversei me falou o quanto temia o carma negativo por causa dos cachorros e disse que já havia orientado o filho a não continuar nesse ramo.

Os donos de animais domésticos têm realmente medo de que eles sejam roubados e vendidos, como parece ocorrer?
Isso pode ocorrer. Uma amiga minha tinha dois labradores que foram roubados. Os pais dela ficaram tão tristes que decidiram não ter mais animais de estimação. Quando um cachorro é roubado o destino acaba sendo óbvio. No entanto é crescente o número de pessoas que têm cachorros como animais domésticos, assim como o número de pessoas que se opõem a comer carne canina --mas talvez isso seja um questionamento global a respeito do uso de animais na alimentação.

No filme, há um questionamento não verbalizado do comércio de carne canina, por parte da menina. Você acha que essa é a perspectiva das novas gerações? Vai se deixar de comer cachorro no Vietnã?
Essa perspectiva da protagonista do meu filme é baseada nos meus amigos vietnamitas mais jovens, que amam seu país e sua cultura, mas, assim como em todas as partes do mundo, também tendem a questionar valores e tradições herdadas. Acho que continuarão a comer carne canina no Vietnã, ainda mais nas áreas remotas e menos privilegiadas do norte, mas, com a rápida modernização e abertura do país, talvez se repita o que ocorreu na Coreia do Sul, onde o consumo passou a ser mais discreto.


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