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Diário de Berlim

o mapa da cultura

Nadando na 1ª Guerra

Lazeres e leituras do conflito centenário

SILVIA BITTENCOURT

A ALEMANHA inaugurou a maratona de eventos em torno dos cem anos da Primeira Guerra Mundial --a "catástrofe original" do século 20, como definiu o historiador americano George F. Kennan.

O Arquivo Literário de Marbach, um dos mais importantes do gênero, no sul do país, deu a largada e vem apresentando várias preciosidades escritas sobretudo em agosto de 1914, quando a guerra estourou.

"Nunca na história escreveu-se tanto como naquele agosto de 1914", afirmam os organizadores. Ali estão anotações de Robert Musil e Ernst Junger, redigidas no front. Ou cartas e diários de quem ficou, como Arthur Schnitzler, Hermann Hesse e Franz Kafka.

Este escreveu, em 2 de agosto de 1914, uma frase que aqui se tornou célebre: "A Alemanha declarou guerra à Rússia --à tarde, natação".

Um dos destaques é o poeta expressionista e professor Ernst Stadler, nascido na Alsácia (hoje na França), mas que escrevia em alemão. "No dia anterior, aula cancelada. De manhã, compras: um revólver". Assim ele iniciou seu diário de guerra, em 31 de julho, três meses antes de tombar na Primeira Batalha de Ypres, na Bélgica.

LITERATURA NA TRINCHEIRA

Marbach também vai tratar da leitura na zona de batalha. Mais de 10 milhões de livros foram doados e enviados para os soldados nas trincheiras --quase o mesmo número de militares mortos no conflito.

A exposição traz uma "biblioteca das tropas". Os livros eram depositados em caixotes especiais e transportados com as cozinhas de campanha. Muitos deles eram editados num formato menor, exclusivo para o front.

Enquanto nos primeiros anos da guerra os soldados ainda se interessavam por clássicos e obras de não ficção, na segunda metade do conflito eles preferiram livros mais triviais, sobretudo de conteúdo erótico.

ARTE E HORRORES

Em Berlim, várias ações destacarão as artes plásticas, a fotografia, a música e até a moda nos tempos da Grande Guerra. É o caso da exposição que acontecerá, no próximo semestre, na Biblioteca das Artes, mostrando como as vanguardas artísticas da época libertaram as mulheres do espartilho e das saias longas.

O evento mais aguardado, porém, é uma megaexposição no Museu Histórico, a partir de junho, que promete apresentar um "retrato eficaz" do horror do conflito, que deixou 17 milhões de mortos, entre militares e civis, dentro e fora da Europa.

Tendo como foco fatos ocorridos em 15 cidades (entre elas Berlim, São Petersburgo e Verdun), ela destacará a evolução das técnicas armamentistas, como o gás tóxico e o lança-chamas, em direção a um "massacre industrializado".

CULPA

Não podiam faltar novos livros sobre o assunto.

O destaque é o best-seller recém-lançado "Der Grosse Krieg "" Die Welt 1914-1918" (grande guerra "" o mundo entre 1914 e 1918), um calhamaço de 900 páginas no qual o cientista político berlinense Herfried Münkler faz um panorama monumental do conflito. Ele considera a Primeira Guerra um "laboratório", onde teriam sido desenvolvidas novas tecnologias, estratégias e ideologias.

Seguindo a linha do pesquisador australiano Christopher Clark, autor do também best- seller "Sleepwalkers" ("os sonâmbulos", de 2012, ainda inédito no Brasil), Münkler rebate a teoria da culpa exclusiva da Alemanha, que prevaleceu durante décadas.

Diz que os atores políticos da época teriam caído na "armadilha da fatalidade", como se a guerra fosse inevitável. "É assustador o amontoado de cálculos errados e acasos que levou ao confronto", escreve.


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