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Letras Brasileiras

Mercado

Um samba de breque

A ficção nacional avança, mas para

RAQUEL COZER

RESUMO Pesquisas de mercado e levantamento da Folha junto a editores indicam que ficcionistas brasileiros ganharam espaço nos catálogos, no embalo de Frankfurt, mas que as vendas continuam incertas. Apesar de alguns êxitos pontuais, participação nacional nas vendas de ficção é tímida e teve leve queda em 2013.

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NAS LISTAS DE MAIS vendidos, o nacional "Fim" (Companhia das Letras), de Fernanda Torres, figura isolado há semanas entre romances de John Green e estrangeiros afins. Seu sucesso, porém, não serve como parâmetro de repercussão da ficção brasileira -e não apenas porque a autora é uma atriz reconhecida. A leitura em geral positiva da crítica decerto impactou menos o leitor que a nada desprezível campanha de marketing em torno do romance, que incluiu inserções na TV Globo e placas de publicidade em espaços públicos.

Com 70 mil cópias vendidas em três meses, "Fim" é um ponto fora da curva de um momento em que casas comerciais passaram, timidamente, a dedicar mais atenção à produção nacional. Embora 2013 possa vir a ser lembrado como um ano de investimentos inéditos na área -a Companhia das Letras dobrando o número de lançamentos de romances, contos e poesia brasileiros, com 16 títulos no ano; a Intrínseca estreando no segmento; editoras emplacando traduções de seus autores para outros países-, no geral as vendas no país não acompanharam o movimento.

Segundo a empresa alemã de pesquisa de mercado GfK, que mensura 69% da comercialização de livros no varejo do país, as vendas de obras de ficção nacional (em unidades) tiveram, de 2012 para 2013, aumento inferior ao do mercado como um todo. Cresceram 2,4%, ante 6% da expansão nas vendas da somatória de todos os gêneros. Com isso, a participação da ficção nacional no mercado de livros do país sofreu uma queda sutil, de 7,6% para 7,4%.

Exemplos mais dentro da curva podem vir da mesma Companhia das Letras que publicou a obra de Fernanda Torres. Para ficar em dois outros romances nacionais de estreia publicados em 2013, "Memória de Pedra", de Mauricio Lyrio, e "Em Breve Será Tudo Mistério e Cinza", de Alberto A. Reis, tiveram menos de mil exemplares vendidos cada um.

Num mercado em que o padrão para autores estabelecidos é alcançar apenas alguns poucos milhares de títulos vendidos, conquistar público leitor mais amplo não é tarefa simples nem para editoras com forte trabalho na área de divulgação, como a Intrínseca.

Em 2013, a editora carioca usou para propagar seus dois primeiros romances nacionais, "Sal", de Letícia Wierzchowski, e "Vidas Provisórias", de Edney Silvestre, as mesmas redes sociais com as quais bombou as obras do americano John Green, que vendeu mais de 800 mil livros no país desde 2012.

Lançados no meio do ano passado com tiragens iniciais de 20 mil e 30 mil cópias, respectivamente, os livros de Wierzchowski e Silvestre tiveram por ora pouco mais de 4.000 e 8.000 exemplares vendidos. São números similares aos de dois romances de 2013 considerados bem-sucedidos pela Companhia das Letras, "O Drible", de Sérgio Rodrigues, e "República das Abelhas", de Rodrigo Lacerda, com 4.000 e 6.000 cópias.

Nesse cenário, "Fim", com apenas dois meses nas livrarias em 2013, foi a segunda obra nacional (sem entrar no domínio da não ficção) mais vendida do ano, perdendo somente para "Toda Poesia" (Companhia das Letras), de Paulo Leminski, com 80 mil exemplares em dez meses.

O ANO SEGUINTE Passado o frenesi em torno da homenagem ao Brasil na Feira de Frankfurt 2013, precedida pelo entusiasmo de grandes editoras com as pratas da casa, o cenário hoje é mais de manutenção que de crescimento.

A Intrínseca tem só uma ficção adulta prevista para o ano, "Tempos Extremos", de Miriam Leitão. A Companhia das Letras talvez fique aquém do número de nacionais de 2013, numa lista que, se tudo der certo, terá os novos de Chico Buarque e de Milton Hatoum.

A Record, líder em lançamentos entre as editoras de interesse geral, espera manter suas mais de 20 obras anuais de ficção nacional, incluídos aí o retorno de Santiago Nazarian ao romance adulto e os novos de Altair Martins e Cristovão Tezza. A Alfaguara, com cinco ficções brasileiras em 2013, também planeja manter sua média.

"O trabalho em cima de autores nacionais é lento. Você ajuda a construir a carreira deles até o momento em que começam a ter repercussão", diz Marcelo Ferroni, editor da Alfaguara, que no ano passado viu repercutir o segundo romance de um autor até então desconhecido, José Luiz Passos ("O Sonâmbulo Amador", do fim de 2012, vencedor do Portugal Telecom 2013), e o mais recente de Ricardo Lísias, "Divórcio".

"Lísias é um exemplo de autor que a cada romance vende mais. O primeiro que publicamos dele, 'O Livro dos Mandarins', saiu em 2009 com 3.000 cópias e teve reimpressão agora. 'O Céu dos Suicidas', de 2012, já foi reimpresso duas vezes. 'Divórcio' está numa curva ainda maior de vendas, com três tiragens distribuídas e 4.500 exemplares vendidos", diz.

À exceção da Intrínseca, que informa levar em conta "todos os aspectos específicos e possibilidades de comunicação, de marketing e comerciais de cada obra", as editoras em geral não se lançam com grandes expectativas de venda sobre obras de ficção nacional.

"O papel do editor literário é olhar para a frente. Se for bom, tem de investir mesmo no que não tenha tanta saída. Uma autora como Elvira Vigna ['O que Deu para Fazer em Matéria de História de Amor'], por exemplo, merecia ganhar um top prêmio literário, ter um público muito maior. Enquanto isso não acontece, trabalhamos a obra dela", diz Luiz Schwarcz, da Companhia das Letras.

Enquanto isso, também, a editora começa a olhar para a seara mais rentável da ficção pop nacional. Em março, publica o thriller "Dias Perfeitos", de Raphael Montes, com tiragem inicial de 10 mil exemplares. Mas é uma ficção pop com respaldo crítico -o primeiro livro do autor, "Suicidas" (Benvirá), foi finalista do Prêmio São Paulo de Literatura.

BEST-SELLERS Uma crítica à lista de autores que representaram o Brasil em Frankfurt dizia respeito à ausência de uma nova geração de escritores nacionais que frequentasse as listas de mais vendidos. São nomes como Paula Pimenta, autora de infantojuvenis com mais de 400 mil livros vendidos pela Autêntica, e Eduardo Spohr, com cerca de 700 mil exemplares de seus romances de fantasia comercializados pela Verus.

Foi a partir de um autor dessa linha, André Vianco, com mais de 500 mil exemplares de seus títulos de fantasia vendidos, que a Novo Século montou seu catálogo tal como é hoje, com 70% de autores nacionais e 30% de estrangeiros. Luiz Vasconcelos, editor-chefe da casa paulistana, gosta de dizer que se trata da editora que mais publica escritores nacionais hoje no país -a previsão para 2014 é lançar 163 títulos nesse segmento.

O pulo do gato foi a criação, em 2003, do selo Novos Talentos da Literatura Brasileira, pelo qual os aspirantes a escritores aceitavam pagar parte dos custos de produção de seus livros. Mas não bastava chegar e pagar -para poder pagar, era preciso antes passar pelo crivo da comissão editorial da editora.

Desse modelo, saíram nomes como Laura Conrado, de "chick lit", e Renata Ventura, de fantasia, que não dizem nada à crítica literária do país, mas tiveram lá seus 10 mil exemplares vendidos em dois ou três anos. Quando o autor emplaca vendas boas para um ficcionista nacional, como elas, ganha um "upgrade" dentro da Novo Século, passando a ser publicado pelo selo principal da casa.

O pagamento, feito pelos autores, de parte da tiragem inicial de seus livros, após seleção por uma comissão editorial, é um formato ao qual já recorriam casas independentes reconhecidas pela qualidade de suas edições, como a carioca

7Letras e a mineira Scriptum.

Menos comerciais que a Novo Século, elas não chegam perto de colocar títulos nas listas de mais vendidos, mas já apresentaram ao mercado nomes elogiados pela crítica como Ana Paula Maia (hoje na Record) e Ana Martins Marques (na Companhia das Letras). Sobrevivem sem grandes lucros, mas estão entre as editoras que fazem diferença no cenário superpopuloso de casas independentes voltadas à publicação de autores nacionais.

Da Scriptum saiu, no fim do ano passado, o vencedor do Prêmio SP de Literatura na categoria estreante com menos de 40 anos. A obra em questão, "Antiterapias", de Jacques Fux, é exemplar da situação de lançamentos nacionais independentes no país. Saiu com 500 exemplares em agosto de 2012 e, até a véspera do anúncio do prêmio, tinha vendido 250 deles. Os 250 restantes se esgotaram após a premiação. A reedição, prevista para breve, terá mil exemplares.


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