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Diário de Paris

O MAPA DA CULTURA

Franceses às ruas, de novo

Pró-Palestina e pelados, juntos no esporte nacional

LUCAS NEVES

Não faltam semelhanças entre os protestos que tomaram as ruas do Brasil em 2013 e a sequência recente de manifestações pró-Palestina na França, sobretudo em Paris, assunto que praticamente monopoliza as atenções da imprensa local.

Em cada um dos cenários, as redes sociais desempenham papel-chave na mobilização dos militantes e ajudam a interpretar as imagens em que neófitos de 20 ou 30 e poucos anos cerram fileiras com veteranos de partidos e organizações de extrema-esquerda.

Que grupos isolados recorram ao vandalismo é outro ponto em comum, assim como a proibição à realização de alguns atos. Se no Brasil a Justiça de Minas Gerais vetou manifestações durante a Copa das Confederações, por aqui, até o fim de julho, pelo menos três delas haviam sido interditadas. O que não impediu milhares de saírem às ruas --a grande maioria entoando slogans pacíficos.

No entanto, o eco localizado, mas claramente audível, de palavras de ordem como "Morte aos judeus!" em certos protestos, somado às agressões a jovens judeus e à legião crescente de seguidores de revisionistas do Holocausto, como o humorista Dieudonné, acendeu a luz amarela: o fantasma do antissemitismo está à espreita.

O país que se orgulha de ser o berço do humanismo tem de se haver com estatísticas incômodas: nunca tantos judeus deixaram a França para se instalar em Israel. De 2012 para 2013, a emigração cresceu mais de 70%, segundo a Agência Judaica. No primeiro trimestre de 2014, a alta foi de quase 300% em relação ao mesmo período do ano anterior. A sensação de insegurança é apontada como a principal causa do êxodo.

NUS COM A MÃO NO BOLSO

Um grupo de modelos-vivos se reuniu no dia 7 de julho em frente à prefeitura de Paris para praticar o esporte nacional por excelência: a manifestação. Ligados aos ateliês de belas-artes do município, eles denunciam a precariedade do ofício, agravada desde a proibição das gorjetas ao fim das sessões de pose --que respondiam por até 30% dos vencimentos de alguns profissionais. O pagamento padrão é de 15 euros (R$ 45) por hora.

Para além da revisão salarial, eles pedem a regulamentação da atividade, ainda não coberta por seguro-desemprego e assistência médica, e a melhora das condições de higiene nos ateliês. "Ao posarmos cenicamente, participamos ativamente do [processo de] aprendizado do olhar", dizem, em manifesto lançado na ocasião.

ENVIADO ESPACIAL

O escultor e pintor ítalo-argentino Lucio Fontana (1899-1968) se fez conhecido por telas monocromáticas rasgadas ou com alinhamentos de furos. A retrospectiva em cartaz até o próximo dia 24 no Museu de Arte Moderna reúne mais de 200 obras para ampliar esse repertório. Lá estão as incisões em pano, terracota e metal, mas também a fase primitivista da juventude, as idas e vindas entre abstração e figuração e o ecumenismo de técnicas e materiais (da cerâmica ao óleo, do desenho à instalação), sempre desafiando o entendimento consagrado de espaço.

Fascinado pela corrida espacial, Fontana cava trilhas de sulcos em suas telas para ilustrar a angústia do homem diante da magnitude do cosmos, "a errância do astronauta, o medo de estar perdido", "a forma dos habitantes do outro mundo". Arte e metafísica em conjunção.

DIZ QUE FUI POR AÍ

No cinema de Robert Guédiguian a crônica social sempre se insinua entre as frestas de um quiproquó familiar prosaico. Suas musas são insubstituíveis: a atriz Ariane Ascaride, sua mulher, e sua cidade natal, Marselha. Todos comparecem a "Au Fil d'Ariane" (jogo de palavras com o fio de Ariadne da mitologia grega e a expressão "au fil de", no decorrer de), sem data de estreia no Brasil.

A personagem-título sai de casa no dia de seu aniversário depois de receber telefonemas do marido e dos filhos se desculpando pela ausência. Logo ancora num bar cuja fauna inclui um poeta, um ex-guarda de museu e uma prostituta às turras com o namorado.


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