Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Ilustrissima

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Diário de Paris

o mapa da cultura

Sexo + DSK = notícia

O livro da ex-amante, a privacidade e a mídia

SERGE KAGANSKI TRADUÇÃO PAULO WERNECK

O affaire Marcela Iacub-Dominique Strauss-Kahn acaba de agitar a esfera midiático-cultural da França. Jurista, ensaísta e cronista de origem argentina, Iacub volta e meia perturba por seu feminismo paradoxal e suas críticas à criminalização da sexualidade, na fronteira da defesa do estupro. Ela acaba de publicar "Belle et Bête" (Stock), relato de sua relação de sete meses com DSK, lançado de modo espetacular na capa da revista "Le Nouvel Observateur", que publicou trechos duas semanas antes da chegada às livrarias.

Em 2011, como se sabe, o então presidente do Fundo Monetário Internacional (FMI) foi acusado de estupro por uma camareira de um hotel em Nova York. O escândalo mundial minou sua promissora candidatura à presidência da França pelo Partido Socialista.

Muitas perguntas foram feitas quando o livro saiu. Sobre a qualidade literária. Sobre o lançamento midiático que instrumentalizou DSK. Sobre as fronteiras entre literatura e comércio, jornalismo e sensacionalismo, informação e respeito pela vida privada.

Em meio à tempestade no copo d'água, cada um foi um pouco hipócrita: Iacub e o "Nouvel Obs", que invocam a literatura enquanto sabem que DSK vende; DSK, que apregoa seu desgosto e apela à deontologia; o público, que denuncia nas redes sociais um livro "nojento" sem nem ter lido. Oscilando entre realidade e fantasias, "Belle et Bête" não é nem escandaloso nem genial. Mas o burburinho do lançamento se parece com o cinismo mercantil de nossa época.

CINEMA SINGULAR

Apresentado no Festival de Berlim,"Camille Claudel 1915" é o filme francês mais forte e atípico do momento. Lembramos que a escultora e irmã do escritor Paul Claudel já foi tema de uma cinebiografia com Isabelle Adjani e Gérard Dépardieu uns 20 anos atrás. O diretor Bruno Dumont escolheu mostrar algumas semanas da vida de Camille Claudel no asilo psiquiátrico onde foi erroneamente internada durante longos anos.

Dumont fez o filme num asilo de verdade, com doentes verdadeiros e enfermeiras reais, em meio aos quais Juliette Binoche encarna Camille Claudel. O filme mostra a solidão, o silêncio, o vazio de uma existência entravada. Dumont filma com a mesma atenção, a mesma duração e as mesmas escalas de plano o rosto de Binoche e os dos internos verdadeiros: confronto esclarecedor entre o rosto de uma estrela sem maquiagem e os de figuras monstruosas que acabam ganhando certa beleza pela potência do olhar do autor. Uma experiência cinematográfica singular e fortíssima.

POP MADE IN FRANCE

Os meandros da história do rock ecoam às vezes estranhas coincidências. Enquanto acaba de morrer o cantor mítico do rock francês Daniel Darc, de obediência pós-punk, figura "destroy" do sombrio tecnopop dos anos 80, um de seus filhos estéticos acaba de lançar seu primeiro álbum e de entrar no clube das promessas da canção francesa: o nome é Lescop (esse é também o título de seu disco).

Muito influenciado pela "cold wave", Lescop se situa na encruzilhada de cantores de texto como Murat, Miossec ou Dominique A, e de mitos do rock anglo-saxão como Joy Division, que marcou sua educação musical e sua atitude. Encarna perfeitamente a fusão pós-moderna entre canção francesa tradicional pouco exportável e o pop universal, dois universos que, por muito tempo, foram incomunicáveis entre si e que se aproximaram há uns 30 anos, graças a personalidades como Daniel Darc. O ciclo se fecha.

CINEMA POLÍTICO

Num registro muito diferente de "Camille Claudel 1915", sai esses dias "Notre Monde", documentário de Thomas Lacoste que está no cruzamento do cinema, da política e das ideias. Reunindo cerca de 30 intelectuais de prestígio (Luc Boltanski, Etienne Balibar, Jean-Luc Nancy, Françoise Héritier...), que representam diversas disciplinas e correntes de pensamento, Lacoste os filmou analisando o mau estado de nosso mundo e desenvolvendo propostas para melhorá-lo.

Cada um fala de seu campo de especialização, mas o filme articula todas essas vozes e mostra que a ideologia liberal dominante atualmente destrói todos os setores de nossas sociedades. Isso poderia ser deprimente, mas a associação de todas essas cabeças pensantes e falantes dá esperança e vontade de se mobilizar. O trailer, em francês, pode ser visto em http://bit.ly/notremonde.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página