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Ciberarquiteto

Beirute x São Paulo: amor e caos

Em meio à desordem das cidades, acabamos nos apegando ao que de melhor elas têm para amá-las; afinal, são nossos lares

Sempre tive curiosidade em conhecer o Líbano. Adoro a cultura, a comida e os meus amigos libaneses. Na semana passada, a convite de uma galeria de Beirute, passei quatro dias intensos lá, vasculhando a cena de design e a arquitetura dessa cidade tão fascinante.

São muitas as semelhanças entre a capital libanesa e São Paulo: ambas selvas de concreto com intermináveis congestionamentos, cenas interessantes de grafite e de música eletrônica e edifícios históricos abandonados (muitos com marcas da guerra civil, que se estendeu de 1975 a 1990).

Beirute tem uma rica herança arquitetônica, com edifícios de influência otomana e francesa, e traços modernistas reconhecidos internacionalmente, que tiveram seu período de ouro nos anos 1950 e 1960 -após sua independência, quando se tornou a capital da vanguarda cultural no mundo árabe.

Mas uma forte especulação imobiliária está devorando prédios genuínos e partes históricas da cidade para dar lugar a empreendimentos de gosto duvidoso.

Outra semelhança entre Beirute e São Paulo está no fato de que seus cotidianos nos lembram que são cidades em guerra.

Na minha primeira noite em Beirute, minha anfitriã explicou como deveria proceder em caso de bomba ou tiroteio, em meio à renúncia do primeiro-ministro, que colocou o país em estado de alerta.

Eu respondi que nossa rotina em São Paulo não é tão diferente. Tentei explicar sobre os arrastões em restaurantes e edifícios no meu bairro, os meninos usuários de craque que dormem na porta do meu prédio, os sequestros-relâmpago que já aconteceram com vários conhecidos e o homicídio do meu pai. Sim, são cidades e cidadãos que convivem com o medo e a violência.

Em minha última noite, a caminho de uma festa num bunker, entre o som das orações vindo das mesquitas e os caminhões de guerra, entendi que nossa semelhança com os libaneses nos faz mais próximos do que eu imaginava. Amamos nossas cidades e nos apoiamos nas coisas incríveis que elas nos oferecem, buscando encontrar estabilidade no caos. Pois, apesar de tudo, esse é o nosso lar.


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