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Cifras & Letras
Livro clama por regulação mais rígida do mercado financeiro
Análise finanças globaisEconomistas desconstroem discurso de que a crise de 2007 era imprevisível
O desastre na usina nuclear de Fukushima, no Japão, poderia ter sido evitado se as autoridades tivessem sido mais rigorosas.
As leis de segurança eram precárias, o governo fechou os olhos para falhas evidentes, e a empresa escondeu irregularidades. Havia uma rede de troca de favores envolvendo governantes e executivos, deixando de lado o interesse público.
Situação semelhante acontece no setor financeiro. Políticos e responsáveis por regular o mercado são capturados pelo setor privado, riscos são escamoteados e, assim, explode a crise.
O paralelo é dos economistas Anat Admati, de Stanford, e Martin Hellwig, do Instituto Max Planck, em "The Banker's New Clothes" (A roupa nova dos banqueiros, em tradução livre). O livro disseca de forma didática o funcionamento do mercado financeiro e alerta para riscos de novas catástrofes.
Os autores desconstroem o discurso dominante nas finanças: de que a crise de 2007 era imprevisível, que foi provocada só por falta de liquidez, que o salvamento estatal era inevitável, que mais regulação iria frear negócios e reduzir o crescimento, que apenas sumidades poderiam entender plenamente a dinâmica dos bancos etc.
Com linguagem clara e simples, Admati e Hellwig desmistificam o sistema bancário. Nesse sentido, fazem o papel do garoto que grita que o soberano está nu no famoso conto do dinamarquês Hans Christian Andersen: "A Roupa Nova do Imperador".
Exemplo: a narrativa que explica a crise pela falta de liquidez tem o objetivo de criar uma cortina de fumaça em torno das questões de solvência dos bancos e de suas responsabilidades com a sofrível avaliação de riscos e gastos excessivos, dizem.
Lembrando a corrida bancária do clássico filme de Frank Capra "A Felicidade Não se Compra" (1946), o livro traça a evolução histórica do sistema financeiro norte-americano e europeu.
O banqueiro vivido por James Stewart, aflito em honrar responsabilidades, é bem diferente do atual esquema financeiro. Hoje, as instituições vivem de empréstimos estratosféricos, têm patrimônio líquido mínimo em relação a seus compromissos e assumem riscos exorbitantes.
Contar com o socorro estatal e manter frouxas as regras do jogo é seguir num rumo perigoso, afirmam os autores.
Poluir no lugar de buscar opções limpas é comparável a subsidiar bancos que operam com muito risco e ameaçam a sociedade, defendem.
A crise iniciada em 2007 fragilizou muitos bancos e prejuízos substanciais foram revelados. Mas, na avaliação de Admati e Hellwig, há fortes indícios de que muitas perdas ainda estão submersas.
O livro deixa de mostrar o contexto da crise e se omite em levantar a situação dos bancos fora de EUA e Europa.
Por vezes o texto pode parecer ingênuo, mas é essencial para quem quer ter uma aula transparente e crítica sobre as finanças de hoje.