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Análise

Controvérsia é simplista e pode levar a ação equivocada

JEAN PISANI-FERRY ESPECIAL PARA O PROJECT SYNDICATE

Controvérsias são essenciais ao avanço da ciência. As falhas metodológicas em um estudo de autoria de Carmen Reinhart e Kenneth Rogoff não passam de uma ocorrência comum e cotidiana no mundo acadêmico.

Mas a cobertura da controvérsia foi espantosamente intensa --e simplista.

"Crescimento em Tempo de Dívida", o curto estudo publicado em 2010, jamais se tornou um trabalho célebre de pesquisa. Caracterização empírica bruta de fatos estilizados, foi recebida com ceticismo pela academia. E seus autores já eram conhecidos por contribuições muito mais notáveis: o Google Scholar registra mais de 3.000 citações a trabalhos relevantes de Rogoff e menos de 500 para "Crescimento...".

O que seria conversa banal entre colegas acadêmicos se tornou, no entanto, tópico de discussão entre jornalistas, comentaristas e autoridades. Para eles, o triste destino do estudo de Reinhart e Rogoff solapa os argumentos em defesa da austeridade fiscal.

Mas isso é só parcialmente verdade. Até que surgisse o estudo, a questão era determinar se um país teria capacidade de pagar suas dívidas, tendo em vista condições econômicas e financeiras específicas, tendências de longo prazo como o envelhecimento da população, e incertezas quanto à política econômica.

Não havia um limiar estabelecido abaixo do qual a dívida fosse inócua e acima do qual passasse a ser perigosa.

A confusão era especialmente aguda em 2010, quando o estudo foi publicado. Um pacote mundial de estímulo havia impedido o pior, e a questão política mais urgente era se os governos deviam continuar tomando medidas de sustentação à economia.

O estudo de Reinhart e Rogoff parecia oferecer um argumento perfeito em favor da austeridade-já, e é por isso que foi citado intensamente. Era tão tentador para os políticos argumentar que a consolidação precisava começar imediatamente, porque o limiar dos 90% na relação dívida pública/PIB estava próximo, que poucos deles resistiram à tentação.

Por terem confiado pesadamente em provas que hoje estão sendo contestadas, os defensores da linha dura fiscal agora ficam em posição fraca, para dizer o mínimo.

O perigo é que desacreditar as ações apressadas de austeridade acabe por solapar os argumentos em defesa de responsabilidade fiscal em longo prazo.

No fim, o crescimento seria de fato prejudicado, o que, ironicamente, provaria que Reinhart e Rogoff estavam certos.


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