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Tobias Andersson - fundador do Pirate Bay

Facebook deveria ser substituído por outra rede social

Cofundador de site de troca de arquivos diz que empresas de internet cooperam com espionagem e são ameaça à liberdade

MARIANNA ARAGÃO DE SÃO PAULO

Cofundador de um dos sites mais longevos e populares da internet, o The Pirate Bay, de compartilhamento de arquivos, Tobias Andersson, 35, acredita que uma nova rede social, "totalmente independente de governos e empresas", possa substituir o Facebook nos próximos anos.

"Eles têm sido muito bons em conectar pessoas, companhias e veículos de comunicação, em um só local", disse o sueco, que esteve nesta semana no Brasil, à Folha.

Segundo ele, porém, políticas frágeis de privacidade e a necessidade de monetização do negócio tornaram a rede social uma ameaça à liberdade da internet.

"Adoraria que uma nova empresa, com as mesmas funções do site, porém independente, surgisse nos próximos anos."

Fundado há dez anos, o Pirate Bay tornou-se o maior site de compartilhamento de conteúdo gratuito do mundo.

Com o sucesso, entrou em confronto com gravadoras, que acusaram o site de facilitar a pirataria. Em 2009, três dos fundadores foram condenados na Justiça sueca --um deles permanece preso.

Andersson, que não foi processado, estuda sistemas de informação e prepara um livro sobre a história do site. Leia trechos de entrevista:

Folha - Como o The Pirate Bay conseguiu sobreviver e se firmar como o maior site de downloads do mundo?
Quando começamos, achávamos que iríamos durar um ou no máximo dois anos, que foi o tempo de vida de outros sites de compartilhamento, como o Kazaa. Mas continuamos e já temos dez anos.
Isso aconteceu porque decidimos logo que não iríamos desistir diante de problemas técnicos ou ameaças legais. Algumas pessoas que estavam lá eram muito boas em tecnologia e tomaram como questão de honra manter o site no ar.
Outra questão é porque estamos estabelecidos na Suécia, que tem uma legislação relativamente tranquila quanto às questões de propriedade intelectual.

O que mudou para o site após as condenações de 2009?
Tivemos de mudar os servidores para fora da Suécia e os fundadores precisaram se afastar: um está preso na Suécia; outro mudou-se para o Vietnã e um terceiro aguarda revisão da sentença.
Mas a internet é grande: não importa se tivermos que mudar de um país para outro, sempre há para onde ir. A computação em nuvem ajudou muito nisso, pois com ela poucas pessoas no mundo sabem de fato onde os servidores estão hospedados.

Qual é o futuro do Pirate Bay?
Acredito que o site deveria fechar pois há novas revoluções ocorrendo, como a provocada pela impressão 3D, e é preciso dar espaço para que outras ideias, que lidem com essa realidade, surjam.
Por estar há dez anos no ar, as pessoas estão confortáveis, pensando que o site sempre estará lá. Se fechasse, alguém sentiria necessidade de construir algo novo.

Serviços de streaming, como o Spotify, diminuíram a relevância da plataforma?
De alguma forma, sim. O Spotify tornou o download menos útil porque é um serviço fácil, em que se encontra quase tudo.
Mas há problemas na plataforma, como a ausência de artistas independentes e o fato de que ela é controlada por grandes gravadoras, como Sony, EMI e Warner. No fim, a maior parte do dinheiro vai para essas empresas.

Como o sr. avalia o crescimento das redes sociais?
Quando o Facebook surgiu, achávamos que iriam ser populares por dois anos, e depois entrariam em declínio --o mesmo que pensamos na criação do Pirate Bay, em 2003. Mas eles têm sido muito bons em conectar as pessoas com empresas, veículos de comunicação.
Há questões problemáticas. Como o caso Snowden mostrou, tudo o que todos dizem em qualquer lugar nesses sites é observado pela NSA (Agência de Segurança Nacional dos EUA).
Talvez não pareça um grande problema hoje, mas, se continuar assim, no futuro o governo dos EUA terá o controle de toda a internet. Adoraria que uma nova empresa surgisse, como o Facebook, todas as suas funções, mas que fosse independente. É hora de substituir o Facebook.

O sr. acredita que esses sites possam se tornar uma nova forma de organização política, no futuro?
Eles são uma ótima forma de mostrar ao governo o que você pensa. Mas é só uma ferramenta, e não a revolução em si. É como levantar um cartaz em um protesto. A real revolução ocorre nas ruas.

Com o crescimento dos serviços de streaming, a batalha com as gravadoras acabou?
A próxima grande batalha virá em consequência da revolução causada pelas impressoras 3D, que está apenas começando.
Quando pessoas comuns começarem a produzir produtos como carros e eletrônicos, a briga vai ser mais pesada, pois vai ameaçar indústrias poderosas --como a automobilística e a do petróleo-- e até países. Quando isso ocorrer, siglas como Sopa (projeto antipirataria dos EUA) se tornarão irrelevantes.


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