Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Mercado

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Cifras & letras

CRÍTICA PRODUÇÃo

Artigos fazem anatomia da crise na indústria brasileira

Desindustrialização é tema de livro organizado por formulador do Plano Real

MARIANA CARNEIRO DE SÃO PAULO

Pode-se arriscar que a crise da indústria brasileira seja um dos temas mais presentes no noticiário econômico dos últimos anos.

Desde 2010, a produção manufatureira doméstica patina. Já culparam a taxa de câmbio excessivamente apreciada, os juros (outrora elevados) e até a China.

Mas o fato parece se sobrepor às hipóteses: a crise permanece, apesar da oscilação de culpados.

Contribuição relevante para uma reflexão mais profunda é o livro "O Futuro da Indústria no Brasil: Desindustrialização em Debate" (editora Civilização Brasileira), organizado pelos economistas Mônica de Bolle e Edmar Bacha, este um dos formuladores do Plano Real.

A organização dos artigos é bem didática. A primeira e segunda partes fazem uma espécie de anatomia da desindustrialização. Pois este é um caso indubitável para nossos analistas.

A participação da indústria no PIB (Produto Interno Bruto) vem caindo historicamente e recuou ainda mais rápido a partir de 2008.

Na segunda metade do livro, são discutidas ações passadas e presentes de reação.

VANTAGENS

Apesar de reconhecer a gravidade do problema, o livro não tem tom de epitáfio.

Em seu artigo, Bacha atribui à bonança externa --bônus obtido com o aumento do preço das exportações e a entrada de recursos no país entre 2005 e 2011 --a perda de competitividade da indústria.

Não para os chineses, como se supõe, mas para o setor de serviços, que cresceu com vigor amparado no aumento do consumo.

Não é difícil visualizar o movimento descrito. Comprou-se o carro, agora será necessário levá-lo à oficina.

Argumento interessante é exposto em artigo dos economistas Tiago Berriel, Marco Bonomo e Carlos Viana de Carvalho. Eles avaliam a eficiência econômica da desindustrialização.

Usando como base o desempenho da indústria e sua contribuição para o crescimento do PIB entre 1978 e 2008, eles colocam em debate se uma fatia menor da indústria não poderia gerar, ao contrário do que diz o senso comum, um resultado mais positivo para a economia.

No período estudado, a indústria de transformação cresceu, em média, 1,9% por ano, ao passo que a indústria extrativa e a agropecuária obtiveram resultados mais encorpados: 4,7% e 3,5%.

Além de crescer menos, a atividade manufatureira apresentou maior volatilidade. Nas palavras dos autores, o "setor não contribuiu para a eficiência produtiva da economia no período". Pelo menos não da maneira como se especializou a indústria de transformação, focada em setores menos produtivos.

E arriscam sugerir a adoção de uma política de desindustrialização organizada, em que setores menos competitivos sucumbam para que outros mais fortes floresçam.

CADEIA PRODUTIVA

Crítica interessante está contida no artigo de Eduardo Augusto Guimarães, sobre a política de conteúdo local adotada pelo governo inicialmente no setor de petróleo mas que hoje se estende aos fabricantes de veículos.

Guimarães compara a política local com a feita na Noruega, país rico em petróleo. Ele observa que o país nórdico resolveu gastar o dinheiro dando apoio à cadeia de fornecedores para que eles se desenvolvessem.

Modelo diferente do brasileiro, que prefere gastar pagando mais caro a produtores locais por equipamentos que seriam mais bem feitos no exterior. Há dispêndio de dinheiro público, mas a escolha sobre em que etapa investir faz diferença, aponta Guimarães.

Trata-se de um livro para iniciados ou para os que não têm medo de fórmulas ou modelos matemáticos, presentes em alguns artigos. Mas, em pouco tempo de existência, já se tornou referência para quem deseja estudar o tema com lupa.

O FUTURO DA INDÚSTRIA NO BRASIL - DESINDUSTRIALIZAÇÃO EM DEBATE
AUTOR Edmar Bacha e Mônica de Bolle (org.)
EDITORA Civilização Brasileira
QUANTO R$ 49,90 (418 págs.)
AVALIAÇÃO ótimo


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página