Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Mercado

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Inflação argentina favorece carro brasileiro

Com acesso restrito a dólares, vizinhos compram ativos reais para preservar poder de compra; exportação do Brasil dispara

Argentina passa a responder por 84% das exportações brasileiras de automóveis, ante 27,4% em 2005

GABRIEL BALDOCCHI DE SÃO PAULO

Brasileiros mais velhos provavelmente vão reconhecer esta história: na Argentina de inflação alta, onde o acesso a dólares é controlado, carros viraram um refúgio para preservar o poder de compra.

Essa fuga a ativos reais é semelhante a experiências do Brasil pré-Plano Real.

O fenômeno turbina o desempenho do mercado vizinho, cujas vendas cresceram 16,3% no primeiro semestre e que caminha para um ano recorde. De carona, vão os modelos fabricados no Brasil, cerca de 40% do volume total vendido por lá.

Enquanto se arrastam as negociações bilaterais sobre as mudanças no acordo setorial, as exportações para a Argentina alcançam o maior nível já registrado no semestre: 180,5 mil unidades.

Trata-se de um crescimento de 26,2% nos seis primeiros meses, mais do que suficiente para compensar a queda de 7,5% registrada em igual período de 2012.

"O peso perde valor por causa da inflação. As pessoas que têm economias e que costumavam correr ao dólar para se proteger agora não têm mais essa opção. Elas tentam se proteger com bens duráveis, como uma forma de não perder poder de compra", afirma Mariano Lamothe, economista da abeceb.com.

Frederico Tineo, vendedor de concessionária Renault em Buenos Aires, traduz o fenômeno em números. A loja vende 500 carros ao mês, 200 a mais do que em 2012.

"As pessoas compram porque não podem comprar dólares. O pouco que têm colocam num carro. É o que dizem os clientes", diz Tineo.

Os índices oficiais sugerem uma inflação próxima aos 10%, patamar que poucos acreditam ser real. Nas estimativas independentes, o percentual supera 25%.

Em menor escala, motivos semelhantes aos observados na Argentina ajudaram a Venezuela a reaparecer na lista dos dez maiores destinos das montadoras brasileiras.

O país, que já foi um dos mais relevantes para os carros nacionais, passou três anos sem comprar um único modelo. Neste ano, importou 1.234 unidades, bem aquém das quase 30 mil de 2007.

O avanço de 20% nas vendas externas de carros surpreende num ano em que a balança comercial como um todo acumula quedas expressivas no superavit.

Nem mesmo as montadoras acreditavam numa tendência positiva. A previsão inicial da Anfavea (associação das montadoras) era de queda em 2013. A projeção agora será revisada para crescimento.

Executivos do setor reconhecem a contribuição do efeito argentino aos dados de exportação. Ressalvam que a tendência não deve se sustentar, mas reconhecem que tem ajudado a produção no ano.

O presidente da Anfavea, Luiz Moan, atribui a evolução ao avanço nos mercados compradores, e não a uma melhora da competitividade.

O fenômeno, contudo, escancarou uma tendência negativa: as exportações estão cada vez mais concentradas na Argentina. O país agora representa quase 84% das vendas externas. No pico recente de exportações, em 2005, a fatia era de 27,4%. Ou seja, os europeus e mercados mais exóticos, como Egito e África do Sul, estão fazendo falta.

A entidade trabalha em um estudo para servir de base a um programa de medidas de incentivo à exportação. A meta é alcançar 1 milhão de unidades, entre carros, ônibus e caminhões.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página