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Sinais importam, mas números são ruins, diz analista
RAUL JUSTE LORES DE WASHINGTONHá espaço para mais clareza do governo sobre as metas fiscais, diz o argentino Sebastián Briozzo, há cinco anos o principal analista de Brasil na agência de avaliação de risco Standard & Poor's.
Segundo Briozzo, 43, o mercado não vê possibilidade de reformas em ano eleitoral e há baixa flexibilidade para cortes drásticos nos gastos ou aumento de impostos.
Leia os principais trechos da entrevista dada por telefone à Folha, de Buenos Aires.
ESPAÇO PARA CLAREZA
Vários integrantes do governo têm vindo a público falar de mudanças. A retórica é importante em sinalizar metas fiscais de longo prazo, e há espaço para ser mais claro. Mas o que importa são números concretos. E eles têm piorado.
SEM FLEXIBILIDADE
Não vemos base para reformas importantes, com custo político alto, como as da Previdência e a dos impostos, antes da eleição do ano que vem. Por isso, não estamos prestando atenção só à dívida alta, mas à flexibilidade fiscal baixa.
O aumento das despesas tem avançado mais do que o crescimento nominal do PIB. Se a economia cresce pouco, há menos para arrecadar com impostos. E a desoneração enfraqueceu a receita fiscal.
Temos uma equação complexa, com uma inflação não tão alta, mas crescente, com taxa de crescimento menor com o aumento dos juros (Selic). Some-se isso ao quadro eleitoral.
POLÍTICA AMBÍGUA
No fim de 2010, início de 2011, com uma situação fiscal mais forte, havia esforço político e monetário. Mas o investimento público e privado caiu 4% em cinco trimestres seguidos.
O investimento público foi menor ou mais lento do que o esperado, e o privado não decolou, sob uma política ambígua de muito ruído e pressão por baixos retornos. A política de tarifas no setor energético também foi conduzida de forma ruidosa. E as parcerias público-privadas e as concessões andaram muito devagar.
MERCADO ANTECIPADO
O mercado é volátil, seu trabalho é se antecipar aos fatos e ao que fazemos. De imediato, [uma mudança na nota] não tem tanto impacto porque os mercados se antecipam.
E, da mudança de perspectiva ao corte da nota, o normal é passarem de 12 a 18 meses.
DEMANDAS
A mudança na percepção de estável para negativo ocorreu antes dos protestos de rua. Desde então as pressões fiscais cresceram. A inclusão social de tantos milhões criou pressões de gastos e cobranças. Como cumprir [as demandas] com crescimento baixo e a necessidade de investir em infraestrutura que o país tem?