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Caixa lucra mais, mas calote sobe e crédito desacelera
Banco estatal serviu como principal arma do governo para acirrar concorrência no setor, com juros menores
Ritmo anual de expansão do crédito recuou de 43% para 40% no 3º trimestre; tarifas garantem ganho
A Caixa Econômica Federal, principal aposta do governo Dilma para aumentar a concorrência bancária, desacelerou a concessão de empréstimos, viu aumentar sua inadimplência e foi obrigada a separar mais recursos para eventuais calotes.
Para analistas, o cenário econômico mais fraco deste ano chegou finalmente ao banco estatal, até então uma ilha apartada da realidade das demais instituições.
O ritmo anual de expansão do crédito na Caixa recuou de 43% para 40% entre o segundo e o terceiro trimestres, consequência da demanda menor por empréstimos e do aumento da concorrência com os rivais privados.
Segundo Marcio Percival, vice-presidente da Caixa, a desaceleração na procura por empréstimos foi maior no financiamento de bens de consumo e começou a ser sentida a partir de abril.
Apesar da redução nos financiamentos, o lucro do banco estatal somou R$ 1,87 bilhão --38,5% maior do que no mesmo período de 2012.
Em parte, o aumento é explicado pela elevação das receitas com tarifas e serviços, que se tornaram as novas fronteiras de rentabilidade do setor e de investimentos bem-sucedidos feitos pelo banco no mercado de capitais.
Apesar da desaceleração neste final de ano, para 2013 como um todo, a expectativa é elevar entre 36% e 38% o volume de empréstimos.
Trata-se do maior crescimento anual dos financiamentos entre os bancos. No também estatal Banco do Brasil, o crescimento previsto é de até 20%, e, nos rivais privados, de 8% a 11%.
CALOTE MAIOR
Diferentemente dos bancos privados, que estão com os menores níveis de inadimplência da história, na Caixa o percentual de atrasos subiu de 2,27% para 2,4% do total de empréstimos, do segundo para o terceiro trimestres.
O valor ainda fica abaixo dos 3,3% da média do mercado, devido à presença significativa do financiamento imobiliário, que tem histórico de baixa inadimplência, na carteira da Caixa.
A situação também se repetiu no Banco do Brasil, que teve alta de 1,87% para 1,97% na inadimplência.
Para contornar os calotes ainda crescentes, a Caixa teve despesas de R$ 2,36 bilhões com provisões --21,4% superior ao mesmo período de 2012. Na comparação com o segundo trimestre, a alta foi de 5,2%.
Nos bancos privados, a inadimplência caiu e possibilitou uma forte redução nessas provisões, o que explica o aumento (ou manutenção) do lucro no terceiro trimestre.
Segundo Percival, a Caixa faz um acompanhamento rigoroso da inadimplência, que tende a "oscilar" no patamar atual nos próximos meses.
O banco, que tem 70% do financiamento imobiliário, não sente um endividamento preocupante das famílias que adquiriram imóvel nos últimos meses devido a gastos com reforma e compra de móveis, entre outros. "Esse endividamento ainda não é inibidor do crédito", disse.
Para evitar novas injeções de recursos em 2014, a presidente Dilma ordenou à Caixa que deixe de financiar grandes empresas.
O banco também deve segurar o repasse de lucro ao Tesouro, aumentando sua folga para manter as concessões no próximo ano. A expectativa, porém, é que o crédito cresça menos em 2014.