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Taxa básica de juros volta aos 2 dígitos
Decisão de elevar a Selic de 9,5% para 10% ao ano foi unânime; comunicado exclui preocupação com a inflação
Projeção mais comum para 2014 é 10,5%, mas analistas já trabalham com 11% --uma taxa real na casa dos 5%
Depois de 20 meses, os juros brasileiros, os mais altos entre as principais economias do mundo, voltam ao patamar de dois dígitos.
Por decisão do Banco Central, a taxa Selic, que serve de referência para o rendimento das aplicações financeiras e o custo dos empréstimos bancários, foi elevada de 9,5% para 10% ao ano --a maior desde março de 2012, quando fora reduzida de 10,50% para 9,75%.
O Comitê de Política Monetária abriu a possibilidade de moderar a alta dos juros daqui para a frente, ao excluir do texto do comunicado da medida a preocupação com a inflação do próximo ano.
"Dando prosseguimento ao processo de ajuste da taxa básica de juros, iniciado na reunião de abril de 2013, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa Selic", disse o texto, na tradicional linguagem cifrada do BC.
Sumiu do texto uma afirmação repetida nos quatro comunicados anteriores de altas de 0,5 ponto percentual: "O Comitê avalia que essa decisão contribuirá para colocar a inflação em declínio e assegurar que essa tendência persista no próximo ano".
Interpretação de texto à parte, o novo patamar da taxa tem o significado político de prenunciar o fim de um dos principais trunfos do governo Dilma Rousseff.
Sob a administração da presidente, a Selic atingiu seu menor percentual desde que foi criada, em 1986 --os 7,25% anuais, de outubro do ano passado a abril deste ano.
Promovida na tentativa de reanimar o consumo e o investimento, a queda da taxa foi apresentada como um feito da nova orientação da política econômica, mais próxima das teses desenvolvimentistas da esquerda nacional.
O juro real, ou seja, acima da inflação, chegou a cair abaixo dos 2% anuais, meta fixada extraoficialmente no início do mandato de Dilma.
O afrouxamento monetário, no entanto, não obteve a ambicionada aceleração do crescimento da economia --e, enquanto o Produto Interno Bruto continuou em expansão lenta, a inflação subiu mais rapidamente.
O IPCA, índice que serve de referência para a política do BC, chegou aos 6,59% nos 12 meses encerrados em março, acima do teto fixado na legislação, de dois pontos percentuais acima da meta de 4,5%.
PROJEÇÕES
Agora, as projeções centrais dos analistas de mercado são de uma inflação de 5,8% neste ano e 5,9% em 2014, ainda longe da meta mas dentro do que o governo considera como tolerável.
Os ganhos para as contas públicas também ficaram muito abaixo do esperado pela equipe econômica de Dilma. Mesmo quando a Selic estava no piso histórico, as despesas do governo com sua dívida continuaram altas.
Os gastos com juros caíram ao equivalente a 4,8% do Produto Interno Bruto, não muito abaixo dos 5,2% do último ano do governo Lula, encerrado com Selic de 10,75%.
É que a administração petista criou novos custos financeiros ao se endividar no mercado para injetar dinheiro nos bancos públicos e elevar a oferta de crédito.
Dilma corre o risco de encerrar seu mandato com uma taxa superior à herdada do antecessor.
A projeção mais consensual para 2014 ainda é uma taxa de 10,5%, mas os analistas com maior índice de acerto nas pesquisas do BC já trabalham com 11% --uma taxa real na casa dos 5%.