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Marcelo Miterhof

A promessa do Galeão

O país talvez venha a ter uma novidade em termos de um modelo mais ousado de operação aeroportuária

O leilão do aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, foi surpreendente.

O valor oferecido pela outorga --R$ 19 bilhões, ágio de 294%, para 25 anos de concessão-- é comparável ao do aeroporto de Guarulhos, também conhecido por Cumbica, que serve a São Paulo, cuja concessão por 20 anos saiu no fim de 2012 por R$ 16,2 bilhões, ágio de 373,5%.

A diferença substancial é que Guarulhos já é uma realidade, e o Galeão, uma promessa, sujeita a riscos.

O modelo mais eficiente no setor aéreo é conhecido pela expressão inglesa "hub and spoke": a operação da malha aérea por meio de um centro de conexão e seus raios. Em comparação aos voos ponto a ponto, esse sistema eleva as taxas de ocupação das aeronaves e dilui custos, mas diminui a comodidade dos passageiros que tenham a origem e o destino final fora do hub.

O lugar de maior demanda é o centro de conexões mais econômico. Quanto mais voos concentrar, maior o ganho. Assim, Guarulhos é o principal hub brasileiro. Como hubs exclusivamente domésticos, são ainda relevantes os aeroportos de Congonhas, na região central de São Paulo, e de Brasília.

Como competição entre aeroportos é algo limitado, a concessionária de Cumbica terá facilidade em colocar sua estratégia em prática.

Haverá priorização dos voos internacionais, que têm tarifas mais altas e receitas comerciais maiores em razão do "free shop". Sem precisar atender à lei de licitações, a iniciativa privada consegue elevar os percentuais de receitas cobrados das lojas do aeroporto como aluguel e pode ampliar as áreas comerciais. Considera-se que o potencial de transporte de carga esteja subutilizado.

Um hub alternativo tende a surgir quando o custo de expansão da infraestrutura do aeroporto principal fica maior do que a economia propiciada pela concentração das conexões. Em Guarulhos, os custos de desapropriação e implantação de uma nova pista colocam essa limitação.

Em 2012, Cumbica operou em seu atual limite de capacidade, movimentando 32,8 milhões de passageiros, dos quais 11,5 milhões em voos internacionais. Com a implantação de um novo terminal e as obras de adequação de pátios e das pistas, o aeroporto deve atingir um teto de cerca de 55 milhões em até dez anos.

É nessa perspectiva que está parte do potencial do Galeão, que em 2012 teve movimento de 17,5 milhões de passageiros, 4,3 milhões em voos internacionais. Porém o aeroporto terá a concorrência de Viracopos.

Ambos são bons sítios aeroportuários. Viracopos conta com a demanda de São Paulo e do interior. Contudo, situado em Campinas, a 96 quilômetros da capital, precisa de ligação rápida com São Paulo. Um trem supriria tal necessidade.

Há também o risco de uma depreciação cambial mais acentuada e prolongada, o que aumentaria os custos aeronáuticos e conteria o crescimento dos turistas brasileiros em voos internacionais, retardando o esgotamento de Cumbica.

Como seu plano de negócios é complexo, é difícil saber exatamente qual será a estratégia do Galeão. Uma possibilidade é um acordo com uma companhia aérea para que, mediante descontos nas tarifas aeroportuárias, crie um hub no Rio, elevando a movimentação de passageiros e, assim, as receitas comerciais.

Claro, esses descontos podem ser cobertos por Viracopos e Guarulhos. Todavia, a agora chilena TAM, por exemplo, poderia até fazer no Rio um hub da América do Sul. Para uma empresa aérea, a aliança de seu negócio, que tem natureza altamente concorrencial, com o de um aeroporto, que tem características de monopólio, é uma maneira de reduzir a volatilidade dos lucros e aumentar a rentabilidade média. Isso exigiria atenção do regulador, mas é viável.

É ainda possível que a deseconomia dada pela menor demanda local em relação a São Paulo seja ao menos em parte compensada pela maior liberdade de articular as conexões internacionais com as domésticas, dado que há limitações para a expansão de Cumbica, bem como do hub doméstico de Congonhas.

De qualquer forma, o resultado do leilão do Galeão foi mesmo surpreendente. Nada a reclamar. Para quem, como eu, mora no Rio, existe a perspectiva de mais comodidade ao fazer voos internacionais. Para o erário, a receita da outorga foi uma boa notícia. O país talvez venha a ter uma novidade em termos de um modelo mais ousado de operação aeroportuária. A conferir.

marcelo.miterhof@gmail.com


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