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Análise economia mundial

Principal incerteza global não é o euro, mas quais serão os rumos da China

GEORGE SOROS ESPECIAL PARA O PROJECT SYNDICATE

Com 2013 chegando ao fim, os esforços para reanimar o crescimento nas economias mais influentes do planeta --excetuada a zona do euro-- estão tendo efeitos benéficos em todo o mundo. Todos os problemas persistentes têm caráter político.

Depois de 25 anos de estagnação, o Japão está tentando revigorar sua economia. É uma experiência arriscada: o crescimento mais rápido pode causar alta dos juros, o que tornaria insustentável o custo do serviço da dívida.

Mas o primeiro-ministro Shinzo Abe prefere encarar esse risco a condenar seu país a uma morte lenta. E, a julgar pelo apoio entusiástico do público, os japoneses comuns sentem a mesma coisa.

Em contraste, a União Europeia está a caminho do mesmo tipo de estagnação duradoura do qual o Japão está procurando escapar.

Mesmo assim, a crise aguda está superada. As autoridades financeiras europeias reconheceram que a austeridade é contraproducente e pararam de impor restrições fiscais adicionais.

As futuras crises terão origem política. Isso, de fato, já é aparente, porque a União Europeia se tornou tão introspectiva que não podem nem responder adequadamente a ameaças externas, quer na Síria, quer na Ucrânia.

Como resultado, o que deveria ser uma associação voluntária entre Estados iguais que sacrificaram parte de sua soberania pelo bom comum agora foi transformado em uma relação entre países credores e devedores que não é nem voluntária e nem igualitária. De fato, o euro pode destruir completamente a União Europeia.

A grande incerteza que o mundo encara hoje, porém, não é o euro, mas o futuro direcionamento da China. Seu modelo de crescimento perdeu vigor.

O modelo dependia de reprimir financeiramente os domicílios a fim de propelir o crescimento das exportações e dos investimentos. Como resultado, os domicílios hoje respondem por apenas 35% do PIB e a poupança forçada já não basta para financiar o crescimento atual. Isso resultou em aumento exponencial do financiamento por dívida.

Há algumas incômodas semelhanças com as condições financeiras que prevaleciam nos Estados Unidos nos anos que precederam o colapso de 2008. Mas existe também uma diferença significativa.

Nos Estados Unidos, os mercados financeiros tendem a dominar a política; na China, o Estado é dono dos bancos e controla a maior parte da economia, e o Partido Comunista controla as estatais.

Consciente dos perigos, o banco central chinês tomou medidas a partir de 2012 para segurar o crescimento da dívida, mas quando a desaceleração começou a causar problemas sérios na economia, o partido asseverou sua supremacia. Em julho de 2013, a liderança ordenou que o setor siderúrgico reacendesse seus altos-fornos e que o banco central relaxasse o crédito. A economia se recuperou de imediato.

Em novembro, foram anunciadas reformas abrangentes, que são em larga medida responsáveis pela recente melhora nas perspectivas mundiais.

A liderança chinesa estava certa ao dar precedência ao crescimento econômico, ante as reformas estruturais, porque reformas, quando combinadas a austeridade fiscal, causam queda livre deflacionária nas economias.

Mas existe uma contradição interna não resolvida nas atuais políticas chinesas: reativar a siderurgia significa reacender a disparada exponencial da dívida, algo que não pode ser sustentado por muito mais que dois anos.

Como e quando essa contradição será resolvida é uma questão que terá profundas consequências para a China e o mundo. Uma transição bem-sucedida na China provavelmente acarretará reformas políticas, além de econômicas, e um fracasso solaparia a confiança ainda generalizada de que desfruta a liderança política do país, resultando em repressão interna e conflitos militares externos.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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