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A copa como ela é
Azul anuncia teto de R$ 999 para a Copa
Em meio a pressões do governo, empresa reduz preço máximo por trecho no Mundial e causa mal-estar no setor
Companhias rivais temem que iniciativa abra precedente para que seja imposto teto para todo o setor
Numa ação de marketing em meio às pressões do governo para evitar abusos nas tarifas aéreas na Copa, a Azul decidiu estabelecer um limite de R$ 999 por trecho durante o período do Mundial. A medida, que já está em vigor, é válida da origem ao destino (incluindo conexões) e abrange as 103 cidades para as quais a companhia voa.
O teto já fez cair o preço de alguns trechos, como a ligação Guarulhos-Brasília.
O bilhete para ver o jogo da seleção brasileira contra Camarões em 23 de junho custava R$ 2.434, ida e volta, em uma consulta feita em 2 de janeiro. Ontem, o mesmo trecho custava R$ 1.674. As consultas referem-se a voos com ida no dia 22 e volta no dia seguinte ao jogo (24).
Mesmo com o teto, o preço da Azul para essas datas é bem superior aos da concorrência. Na TAM, em uma consulta realizada ontem, o bilhete custava menos da metade (R$ 671,10).
Na Avianca, o mesmo trecho estava à venda por R$ 995,10, e na Gol, por R$ 1.048,35.
De acordo com a Azul, a adoção do teto vai custar R$ 20 milhões em perda de receita. Mas o investimento, segundo o presidente do conselho de administração da Azul, David Neeleman, justifica-se em termos de imagem para a companhia. "Não queremos que pensem que estamos abusando das pessoas durante a Copa", disse ele.
Segundo o empresário, a Copa vai custar muito mais do que R$ 20 milhões à Azul, devido à queda esperada na movimentação de passageiros que viaja a negócios.
A empresa pretende cancelar, durante a Copa, 20% dos quase 900 voos diários que costuma realizar: são 180 voos a menos por dia.
Em contrapartida, deverão ser adicionados 600 voos extras (média de 20 por dia).
"Teremos muita ociosidade. A Copa vai ser ótima para o Brasil, para os investimentos em novos aeroportos, mas para o nosso resultado não vai ser nada bom."
MAL-ESTAR
Anunciada três dias depois de a ministra Gleisi Hoffmann (Casa Civil), em entrevista à Folha, ameaçar abrir o mercado doméstico para estrangeiras como forma de pressionar as empresas a não abusar dos preços na Copa, a medida da Azul causou mal-estar no setor.
Teme-se que a ação abra um precedente para o governo tentar impor um teto para todo o setor --política defendida pelo presidente da Embratur, Flávio Dino, mas que já foi descartada pela Anac; ou que no mínimo haja pressão para que as demais empresas também adotem tetos.
A avaliação do setor, segundo apurou a Folha, é que a ameaça de abrir o mercado para as estrangeiras já havia sido suficientemente criticada, inclusive pelas empresas estrangeiras, que não teriam condição de atender o mercado brasileiro por falta de tempo hábil de planejamento e que, portanto, nenhuma companhia precisaria "vestir a carapuça".