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Análise

'Ruínas cíclicas' obscurecem o discurso da 'década ganha'

SYLVIA COLOMBO DE SÃO PAULO

Durante todo o ano passado, o kirchnerismo fez uma ampla propaganda do que chamou de "década ganha".

Em atos e discursos, a presidente Cristina Kirchner realizou diversas homenagens aos avanços em relação àquele "ano zero": a posse de Néstor Kirchner, seus discursos "anti-imperialistas", a formação dos grupos de militância que hoje ocupam, entre outros postos, os principais de sua equipe econômica.

Seus principais trunfos foram os bons índices de crescimento, em torno de 9%, devido à alta das commodities --a Argentina passou a exportar soja em grande quantidade para a China--, e a ampla implantação de planos de assistência.

O discurso da "década ganha", porém, diluiu-se nos últimos dias, quando renasceu o fantasma dos ciclos de crises que costumam ocorrer, mais ou menos, a cada dez anos no país.

Algo que o "Wall Street Journal" chama agora de "ruínas circulares" da Argentina: Desvalorização da moeda, aumento da inflação e do desemprego, que culminam numa crise política. Não raro, no fim de um governo.

Em 1983, o radical Raul Alfonsín elegeu-se com o discurso de que, "com a democracia, se come, se educa e se cura". Inábil para lidar com a economia, porém, não soube controlar a hiperinflação, que atingiu os 197% em 1989, e teve de entregar o poder mais cedo para seu sucessor, o peronista Carlos Menem.

Menem e sua equipe econômica defenderam a paridade do dólar com o peso por quase uma década. Década essa (1989-1999) que agora é alcunhada pelos kirchneristas, de maneira pejorativa, como "década neoliberal".

Menem legou a seu sucessor, o também radical Fernando De la Rúa, uma nova crise econômica. Uma recessão iniciada em 1998 levou ao fim da Lei de Convertibilidade, o governo voltou a desvalorizar o peso e a tomar medidas bastante impopulares, como o "corralito" (restrição à extração de dinheiro), levando a população às ruas.

A tensão social gerou protestos e mortes, e De la Rúa foi obrigado a deixar o governo e a sair da Casa Rosada. De helicóptero, numa cena gravada em vídeo e que até hoje envergonha o país.

A Argentina teve, então, 5 presidentes em 12 dias e só voltou a atingir algum equilíbrio com a chegada de Eduardo Duhalde ao poder, em janeiro de 2002.

Alguns economistas vão mais longe e detectam o início dos ciclos de crises nos anos 1970. É o caso do ex-ministro da Economia Roberto Lavagna, que atuou durante a gestão Néstor Kirchner, mas está agora na oposição.

Já há alguns meses, ele identificou semelhanças entre o atual momento e o chamado "Rodrigazo" --a primeira séria crise política-econômica do governo de Isabel Perón, viúva e segunda mulher de Juan Domingo Perón.

Em 1975, o então ministro da Economia, Celestino Rodrigo, desvalorizou o peso em mais de 60% e aumentou as tarifas dos serviços públicos em mais de 50%. "O mecanismo é o mesmo, ainda que as consequências sejam diferentes, devido à mudança dos tempos e ao amadurecimento democrático", diz Lavagna.

Em 24 de março de 1976, os militares depuseram Isabelita e tomaram o poder, inaugurando uma das mais cruéis ditaduras da América Latina.


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