Folha de S.Paulo

Shell compra e vende fatia em bloco e dribla sócio

PEDRO SOARES DO RIO

A anglo-holandesa Shell vendeu 23% de seu principal negócio no país, a área de exploração e produção conhecida como Parque da Conchas (bacia de Campos, litoral do Rio), a uma empresa do Qatar.

A participação fora comprada da Petrobras no fim de dezembro por US$ 1 bilhão, mesmo valor pago pela Qatar Petroleum International.

Antes de comprar a fatia da Petrobras, a Shell tinha 50% de participação, a brasileira, 23%, e a petroleira indiana ONGC Videsh, 27%.

Segundo executivos do setor e analistas, a Shell teria agido para se blindar diante do avanço da ONGC.

A indiana, que come- çou com 15% da área, comprou outros 12% da Petrobras também em dezembro. Se adquirisse mais 23%, chegaria a 50%.

A Shell exerceu então seu direito de preferência e ficou com os 23% restantes da fatia da estatal no bloco. Desse modo, impediu que a indiana fizesse uma operação que colocaria em risco seu controle no bloco.

Com a venda atual, a Shell manteve a operação do bloco e preservou seu caixa, dizem analistas. A empresa sempre foi majoritária no projeto e ditava os rumos da operação, como o ritmo das perfurações.

A Shell havia usado o direito de preferência na compra da fatia da Petrobras, após a estatal brasileira ter recebido oferta de US$ 1,54 bilhão da chinesa Sinochem pelos 35% que detinha.

Na ocasião, a participação da Petrobras foi repartida entre a Shell (23%) e a ONGC Videsh (12%). Existia, porém, o receio de que a estatal brasileira pudesse vender toda a cota no negócio à indiana, se a Shell não agisse.

A QPI surge como a parceira perfeita, segundo analistas. A empresa tem pouca presença internacional e não demonstra interesse em operar o bloco.

O Parque das Conchas entrou em operação em 2009 e produz cerca de 50 mil barris de óleo leve (de maior valor) e gás natural.

Com US$ 1 bilhão novamente em seu caixa, a Shell poderá fazer frente aos pesados investimentos no campo de Libra, no pré-sal, licitado em novembro.