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Pedro Luiz Passos

A indústria na encruzilhada

São mudanças estruturais, e não estímulos pontuais, que criarão a base para a expansão do setor produtivo

A indústria brasileira obteve em 2013 o melhor resultado dos últimos três anos, mas esse não é um feito que mereça comemoração.

Primeiro, o crescimento foi baixo, próximo a 1,5%, incapaz de compensar a queda de produção superior a 2% no acumulado dos dois anos anteriores.

Segundo, mesmo essa tênue recuperação foi limitada, pois apoiada em apenas 2 dos 27 ramos pesquisados pelo IBGE, veículos automotores e máquinas e equipamentos --justamente os que contaram com incentivos do governo sob a forma de juros menores nos bancos oficiais ou reduções de impostos.

Estímulos se justificam como mecanismos transitórios de sustentação de produção e emprego durante períodos de correção de rota ou de ajustes da política econômica. Funcionam como paliativos à falta, ou à espera, da verdadeira solução para uma situação de baixo crescimento.

Mas não tem sido assim. As coisas se misturaram de tal forma nos últimos anos que os estímulos financeiros e fiscais usados com bons resultados para evitar o contágio da grande crise de 2008 se tornaram recorrentes.

Nesse processo, foram perdendo eficácia como meios temporários para dinamizar a indústria, além de induzir orientações erradas sobre questões relevantes para o país.

Dois exemplos estão à vista a olho nu: o incentivo à utilização do transporte individual e o retrocesso no desenvolvimento de energias limpas e renováveis, como o etanol. O uso abusivo das subvenções financeiras e fiscais encobriu também o difícil, embora essencial, caminho de reerguimento da competitividade --este, sim, o fator capaz de restaurar o crescimento da indústria em bases sólidas e duradouras.

Preocupante é que o cenário de indefinições se dê em meio a outra onda de mudanças radicais nos processos produtivos, sobretudo nos Estados Unidos.

O boom da exploração de óleo e gás de fontes não convencionais derrubou o custo da energia, mas o renascimento industrial nos EUA traz no bojo também algo tão importante para a competitividade quanto o acesso a insumos baratos: uma efervescência de inovação, que inclui a adoção integral da inteligência dos softwares nas linhas de produção e montagem, permitindo simular, modelar e testar antes de produzir, tudo a custo muito baixo e em tempo real.

Onde estamos, numa linha de tempo, em relação a isso? Caso nada seja feito, é certo que se agravará a posição já desvantajosa detida pela indústria brasileira no cenário mundial.

Além de buscar acelerar o crescimento --algo que nem sequer vem sendo obtido em se tratando da nossa economia--, a política econômica deveria dedicar-se a estabelecer as bases para que o país não se atrase ainda mais na corrida tecnológica, o que significa que as empresas devem ser mais inovadoras e terem condições de ganhar produtividade e se inserir nas cadeias internacionais de valor.

A tarefa seguramente não é fácil. Ela será mais viável se desde já fizermos as escolhas apropriadas. Evitar oscilações exageradamente acentuadas do câmbio, como as que ocorreram no passado, ajuda, mas está longe de esgotar a questão. Será necessário acelerar o programa de concessões ao setor privado de obras de infraestrutura, que está apenas engatinhando, apesar de conhecidas de longa data as graves deficiências na área.

Difíceis de serem corrigidos em prazo curto, mas também dignos de lembrança dada a urgência de soluções, são a deficiência do sistema educacional e da formação de mão de obra e o custo tributário excessivo.

A meu ver, mesmo providências de envergadura como essas terão impacto limitado diante do novo quadro internacional, se não reformularmos completamente as políticas de integração com a economia mundial.

Impõe-se por isso compromisso com a maior abertura comercial, a ampliação dos acordos internacionais e os incentivos redobrados à exportação. Com maior competição e presença internacional de nossas empresas, poderemos ter na inovação e no progresso tecnológico o meio principal para elevar a produtividade e a capacidade competitiva de toda a economia.


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