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Preço controlado tem limite, diz Barbosa

Para ex-homem forte do Ministério da Fazenda, política ajuda a combater a inflação, mas não deve perdurar

Para economista, não há espaço para uma grande desoneração linear de tributos, como a reforma do PIS/Cofins

NATUZA NERY DE BRASÍLIA

Em sua primeira entrevista exclusiva desde que deixou o Ministério da Fazenda, em 2013, o economista Nelson Barbosa, 44, usa o termo "suavização" para se referir ao que o mercado classifica como "controle de preços" promovido pelo governo nas áreas de combustíveis e energia. Mas afirma que essa política não pode ser mantida indefinidamente, pois tem um custo fiscal elevado.

"Como economista, creio que o ajuste de preços pelo mercado é sempre melhor no longo prazo, mesmo que ele tenha alguns impactos negativos no curto prazo."

Fora da Esplanada desde o ano passado, prevê um 2015 "desafiador, mas não crítico" na economia.

Folha - Já conseguiu desencarnar do governo?
Nelson Barbosa - Alguns dizem que a pessoa sai do governo, mas o governo não sair dela [risos].

Analistas preveem necessidade de forte ajuste em 2015.
O Brasil passa por um momento de decisões difíceis. Desde 2012, o cenário internacional não é tão favorável e, do lado interno, há demandas sociais crescentes. É um cenário desafiador, mas não crítico, pois pode ser enfrentado com alguns ajustes.

Quais ajustes?
Por exemplo, os aportes no BNDES foram importantes para sustentar o investimento, mas agora podem ser reduzidos.

E no gasto social?
Tem a reforma do abono salarial e do seguro-desemprego. O próximo governo deverá discutir uma nova regra de reajuste do salário mínimo, para 2016-2018. A regra atual foi bem-sucedida e cumpriu seu papel. O reajuste real pode ser mais moderado de 2016 em diante, acompanhando o salário médio da economia.

O mercado critica o governo por controlar preços, como o da gasolina. Concorda?
O governo vem fazendo uma suavização dos reajustes dos preços administrados, principalmente combustíveis e energia, para evitar um aumento brusco da inflação.
Essa suavização tem um custo fiscal elevado, que teoricamente é compensado pela inflação menor. Mas é uma política de curto prazo que não pode ser mantida indefinidamente.

Não se corre o risco de segurar muito os preços em ano eleitoral e eles explodirem em 2015?
O ano está apenas começando e acho que haverá algum reajuste nos combustíveis, até porque o câmbio subiu, mas sem uma periodicidade fixa. No caso da energia o ideal teria sido começar logo o repasse gradual do custos das térmicas para os preços, mas a Aneel considerou que o assunto não está maduro. No final das contas, é a sociedade que paga o custo, seja como consumidor de energia seja como contribuinte para o Tesouro, que está subsidiando a energia. Creio que o ajuste de preços pelo mercado é sempre melhor no longo prazo, mesmo que tenha impactos negativos no curto prazo.

A política fiscal perdeu credibilidade com a contabilidade criativa. Você foi crítico, acabou saindo do governo...
A decisão da equipe econômica é de toda a equipe. Na questão fiscal, o problema maior foi em 2012, quando só ficou claro que seria difícil cumprir a meta no final do ano. Foi melhor cumprir a meta com auxílio de algumas operações não recorrentes, mas que estão de acordo com a contabilidade pública, em vez de mudar a meta. No ano seguinte, ajustou-se a meta para baixo.

Outra crítica muito forte foram às desonerações, definidas quando você ainda estava na equipe econômica. O governo errou?
Houve desonerações corretivas, tabela do IR, limite do Simples. Houve as focadas na competitividade, como a folha de pagamento. Houve desonerações que atuaram para suavizar o choque de preços, como a Cide. Não há espaço para uma grande desoneração linear, como a reforma do PIS/Cofins, que custa mais ou menos 0,3% do PIB.

Sua saída foi por desentendimento com o Arno Augustin (secretário do Tesouro)?
Não. Fiquei sete anos na Fazenda e era o momento de fazer outras coisas.


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