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Analista deve ter 'pele em jogo', diz escritor

Nassim Taleb defende que profissionais de finanças que fazem projeções sejam prejudicados se estiverem errados

Para autor de "A Lógica do Cisne Negro", isso aumentaria a cautela e amortizaria as consequências

ÉRICA FRAGA DE SÃO PAULO

Profissionais de finanças só deveriam fazer projeções que orientem investidores se estivessem com sua própria "pele em jogo" ("skin in the game") em caso de perda.

Para o escritor Nassim Taleb, isso aumentaria a cautela e amortizaria as consequências negativas do que ele chama de "cisne negro", em referência a eventos inesperados de grande impacto.

Taleb --que participou de um evento do Credit Suisse em São Paulo na semana passada-- ganhou fama principalmente após a publicação de seu bestseller "A Lógica do Cisne Negro" e é considerado um dos especialistas que previram a crise de 2008.

Folha: Qual é a consequência de projeções que não indicam o risco de estarem erradas?

Nassim Taleb O problema é que as pessoas dão números para outros que tomam decisões baseadas nesses números. As projeções não são neutras. Então, o que devemos fazer? Há duas coisas importantes.

A primeira, bastante prática, é: nunca dê uma projeção a menos que você ofereça uma margem de erro.

O número de ataques cardíacos no Brasil no próximo mês é fácil de prever com uma baixa margem de erro.

Mas a margem de erro do que vai acontecer com o mercado de ações ou a economia no próximo ano é enorme.

A outra coisa é que o importante não é com que frequência você está certo ou errado, mas quanto prejuízo causa quando está errado.

Um investidor deve olhar o histórico de acertos e erros dos gestores?

Mesmo o histórico não é suficiente, porque eles podem estar certos a maior parte do tempo, mas, quando errarem, vão errar feio.

Portanto, a ideia é olhar o desempenho do portfólio de um gestor. Isso te dará uma ideia de quanto você pode ganhar investindo com ele.

Em finanças, nunca, nunca, nunca ouça uma projeção. Olhe o que a pessoa tem em seu portfólio.

Além disso, o que eu chamo de "pele em jogo" [skin in the game] é que não seja permitido que eu preveja nada a menos que eu seja prejudicado caso esteja errado. Isso soluciona muitos problemas.

A Lógica do Cisne Negro" foi um sucesso. Como suas ideias têm influenciado as pessoas?

Os burocratas e os acadêmicos me odeiam porque sou agressivo com eles. Digo que suas técnicas não funcionam. As pessoas normalmente não sabem que eu sou um matemático porque houve uma campanha contra mim. Por isso fiz uma versão matemática do livro e estou começando a ganhar alguma influência na academia.

A administração Obama não queria me convidar para as discussões da comissão sobre a crise de 2008. Por fim, alguém os forçou a me convidar. Eu fui lá. Falei por seis horas. Saí de lá e nem uma única palavra do que disse entrou no documento final.

Os burocratas não gostam da minha crítica de que é preciso ter um mundo robusto o suficiente em que seja possível prever erros.

Já os administradores de fundos gostam da ideia do "cisne negro" porque confirma a intuição deles. Meu novo livro tem uma receita muito clara sobre como identificar um risco.

Qual é essa receita?

A primeira coisa é entender em que domínios os "cisnes negros" podem ocorrer. A segunda coisa é ter certeza de que você não tenha uma grande exposição a eles.

Se você está em um avião indo de São Paulo para Nova York e o piloto te diz "não temos um bom mapa de Nova York, então vamos usar um de Manágua", o que você faz? Sai do avião. Em finanças, as pessoas te dizem: não, fique.

Na economia eles fazem isso quando não é o dinheiro deles. Quando as pessoas têm seu próprio dinheiro aplicado, elas são racionais. Quando não é o dinheiro próprio delas, inventam razões para usar técnicas.

Como isso pode mudar?

Para corrigir o risco do "cisne negro", você não precisa de mais livros, mais palestras. A melhor forma é fazer as pessoas entenderem a noção de "pele em jogo", em que quem comete o erro também está exposto a ele.

Se eu tenho um fundo de hedge e metade do meu dinheiro está nele, essa é a melhor regra de investimento, porque, se eu errar, também perco uma boa porcentagem do meu dinheiro.

Pelo que me disseram, se um banco vai à falência no Brasil, o presidente do banco responde com seu patrimônio. Então, o que é necessário é isso, é mais "pele em jogo".

Os governos também fazem projeções econômicas e nem sempre estão certos.

O problema é que os burocratas nunca saem feridos. Os governos deveriam publicar sua taxa de erro e acerto passada com suas projeções.

Quando o governo publica as projeções no orçamento, nunca diz o histórico das projeções anteriores.

Se você visse essas projeções passadas, choraria. Ao não ser honesto sobre isso, o governo torna as pessoas mais dispostas a tomar risco. Pode haver um grupo de pessoas que saem machucadas por esses erros.

Dessa forma, assim como podemos forçar um médico a produzir seu histórico de erros e acertos, também deveríamos forçar os burocratas a publicarem o seu.

"Em finanças, nunca, nunca, nunca ouça uma projeção. Olhe o que a pessoa tem em seu portfólio Para corrigir o risco do "cisne negro", você não precisa de mais livros. A melhor forma é entender a noção de "pele em jogo", em que quem comete o erro está exposto a ele"


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