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Crítica negócios
Obra sobre Lego não funciona como autoajuda empresarial
Livro sobre trajetória da companhia relata crise no início dos anos 2000
Com a estreia do filme "Uma Aventura Lego" na semana passada, a empresa do tradicional brinquedo de montar coroa sua recuperação nos últimos anos, puxada por incursões em videogames, robótica e novas linhas.
Após uma série de tropeços e investimentos malfeitos, a Lego quase foi à falência no início dos anos 2000.
A história da expansão, declínio e recuperação da empresa é contada no livro "Peça por Peça", de David C. Robertson e Bill Breen.
Antes da crise, acompanhamos a trajetória de uma companhia que surgiu como fabricante de brinquedos de madeira e desenvolveu um sistema de jogos com blocos de montar usando modernas técnicas de injeção de plástico na década de 1950.
O livro traz passagens interessantes para os fãs de Lego, como os bastidores do surgimento dos "minifigs", os pequenos bonecos de cabeça amarela que são as estrelas do novo filme.
O principal problema do livro é não se limitar a contar a história da companhia dinamarquesa.
Como sói acontecer com lançamentos recentes da área de administração, os autores tentam transformar a trajetória de uma empresa em uma espécie de livro de autoajuda empresarial, recheando a obra de "lições" e "verdades" supostamente derivadas da experiência da tal empresa.
Por isso, todo capítulo tem que conter um resumo do que foi aprendido, na forma de listas de práticas ou princípios a serem seguidos.
Além de atrapalhar o fluxo e o ritmo de leitura, esses "insights" são tão genéricos a ponto de pouco ajudar quem enfrenta o desafio de gerenciar o que quer que seja, tais como "inove sem sair da caixa" e "defina o curso e, depois, saia do caminho".
CAMINHO TORTUOSO
O livro segue uma estrutura confusa, em que primeiro se apresenta a empresa e depois se relata como a Lego tentou se reinventar, mostrando inovações que parecem dar certo.
No entanto, no capítulo seguinte descobre-se que na verdade essas inovações são as que quase levaram a empresa ao fundo do poço. Nesse ponto os autores aproveitam para relatar outras iniciativas da empresa que não tiveram bons resultados.
Passa-se então à chegada de novos administradores à empresa, que primeiro fazem uma limpeza financeira e modernização da gestão para depois voltar à inovação, dessa vez com sucesso.
Mas a história da Lego por vezes não se encaixa bem nas lições e na narrativa maniqueísta criada pelos autores.
Não fica claro por que uma iniciativa como se conectar à multidão de fãs de Lego não deu certo antes de 2003, sob a velha administração, e deu certo com a nova chefia. Ou por que uma linha de brinquedos muito diferente de tudo que a Lego já tinha feito, como a Galidor, deu tão errado enquanto a linha Bionicle, com características semelhantes, deu tão certo.
Também se encaixa mal na narrativa o fato de que duas das linhas que, segundo os próprios autores, ajudaram a salvar a empresa --Star Wars e a Bionicle-- se originaram antes da chegada da nova administração, sob os chefes que supostamente não souberam conduzir a inovação.
É difícil de entender também por que ficaram praticamente de fora do livro os incrivelmente populares videogames Lego, como Lego Star Wars, Lego Indiana Jones e Lego Batman, que merecem apenas uma nota de rodapé.
Por fim, chama a atenção a péssima adaptação do livro para o português, cheia de erros de gramática e tradução.
PEÇA POR PEÇA - COMO A LEGO REDEFINIU O CONCEITO DE INOVAÇÃO E RECRIOU A INDÚSTRIA MUNDIAL DE BRINQUEDOS
AUTORES David C. Robertson e Bill Breen
EDITORA Elsevier
QUANTO R$ 79,90
AVALIAÇÃO Ruim