Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Mercado

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

'País não deve aguardar socorro da China'

Economista Arthur Kroeber diz que gigante asiático reduzirá investimentos, o que afetará as exportações brasileiras

Na avaliação do especialista, Brasil precisa melhorar seu ambiente para investimentos

RAQUEL LANDIM DE SÃO PAULO

A China já reduziu o ritmo de crescimento dos investimentos e atingiu o "primeiro estágio" do reequilíbrio da sua economia desejado pelo governo local.

Até o fim desta década, o consumo das famílias deve crescer mais rápido do que os investimentos no gigante asiático.

O ajuste é necessário para manter a economia chinesa saudável, mas é má notícia para o Brasil. "O Brasil precisa focar em melhorar o seu ambiente para investimentos em vez de esperar que a China o socorra", disse Arthur Kroeber, chefe de pesquisa da consultoria GaveKal Dragonomics.

Graduado por Harvard e vivendo em Pequim há muitos anos, Kroeber ressalta que a taxa de expansão do investimento chinês já caiu de 15% para 8% e vai recuar mais, o que afeta a demanda por minério de ferro brasileiro.

Na última década, a voracidade da China por commodities inflou os preços desses produtos e garantiu um fluxo generoso de dólares para o Brasil, permitindo ao país importar mais sem estourar as suas contas com o exterior.

Folha - A China está crescendo no ritmo mais lento em 14 anos. Por quê?
Arthur Kroeber - A economia chinesa está experimentando, ao mesmo tempo, uma desaceleração estrutural e uma desaceleração cíclica.
A desaceleração estrutural ocorre porque a base de comparação se tornou muito alta e a economia está começando a depender mais dos serviços do que da indústria. E isso sempre significa uma menor taxa de crescimento. Não há problemas aqui.
Já a desaceleração cíclica foi provocada por um crescimento excessivo do crédito, que agora o governo está timidamente moderando.
Acredito que o crescimento da economia vai desacelerar um pouco mais, para 6% a 7% no ano que vem, à medida que o governo tenta controlar o problema do crédito.

O Brasil deve se preocupar com a desaceleração chinesa?
O problema para o Brasil não é a desaceleração do PIB [Produto Interno Bruto] chinês, mas, sim, do investimento. Está muito claro que, durante a próxima década, o ritmo de aumento do investimento chinês vai desacelerar mais e o país se tornará mais eficiente no uso dos recursos naturais. Em ambos os casos, é negativo para o Brasil.
Por isso, é importante que o Brasil foque em melhorar o seu ambiente de investimento interno em vez de esperar que a China o socorra.

A China está conseguindo mudar o motor da economia do investimento para o consumo?
A taxa de crescimento do investimento já caiu da média de 15% entre 2000 e 2010 para 7% a 8% hoje. O investimento e o consumo hoje crescem no mesmo ritmo.
Apesar de isso significar que a fatia do consumo e do investimento no PIB vai ficar constante, é uma grande mudança em relação ao tempo em que o investimento crescia muito mais rápido. É o primeiro estágio do reequilíbrio em direção ao consumo. A partir de 2020, acredito que o consumo vai passar a crescer mais rápido que o investimento.

Alguns analistas dizem que existe um risco de uma bolha de crédito na China. Qual é a sua opinião?
A participação do crédito na economia subiu de 140% do PIB em 2008 para 210% em 2012 [no Brasil, é pouco mais de 50% do PIB]. Esse aumento aconteceu em duas fases distintas: o grande pacote de estímulo à economia em 2009 e o "mini" pacote de estímulo de 2012.
Um crescimento tão rápido do crédito definitivamente representa um risco de estresse financeiro.
Para reduzir esse risco, o governo vai gradualmente precisar diminuir o ritmo de crescimento do crédito, o que significa aceitar uma taxa de crescimento menor do PIB.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página