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A pioneira se movimenta

Na contramão do setor têxtil, Cedro, primeira S.A. privada do país, escapa da avalanche chinesa com produtos de maior valor

ELEONORA DE LUCENA ENVIADA ESPECIAL A BELO HORIZONTE

Em 2005, o Brasil aceitou abrir seu mercado têxtil. E aí se deparou com a avalanche asiática. Na Cedro, tecelagem mineira criada em 1872, que se intitula a primeira firma privada a constituir uma sociedade anônima no Brasil, a mudança provocou um dos raros anos de prejuízo na história. Foi em 2006.

Para encarar a nova realidade, a empresa mudou de estratégia. Deixou o segmento de tecidos mais baratos, em que passaram a reinar os importados. Sem aumentar sua capacidade instalada, comprou máquinas e modificou processos para elevar o valor agregado de seus produtos.

"Um produto básico briga na faixa de R$ 6 a R$ 8 o metro. Um premium está na faixa de R$ 9 a R$ 14", diz Marco Antônio Branquinho Junior, 41, diretor-presidente da empresa, o primeiro de fora da família fundadora, que tomou posse neste ano.

"A quantidade de matéria-prima, de energia e de mão de obra para fazer um jeans básico e um premium é a mesma. Mas há muito ganho de margem", diz.

Por isso, ele afirma que "deixa para quem quiser" o jeans mais barato. Os investimentos na fabricação mais sofisticada também criaram condições para a flexibilização das linhas de produção --que podem ser modificadas com agilidade para tecer o que gera mais rentabilidade no momento: denim, brim colorido, tecidos para confecções profissionais.

A nova estratégia tem tido êxito. Na quarta-feira passada, a Cedro exibiu números que a colocam na contramão do setor têxtil, que encolheu 9,4% em 2013. No ano passado, a receita bruta da companhia mineira cresceu 17,4%, chegando a R$ 707 milhões.

Daquele 2006 com prejuízo até agora, a empresa quase dobrou de tamanho. A produtividade, que era de 16 kg/homem-hora há quatro anos, está em 32 kg.

Foi mais um momento de adaptação da tecelagem centenária. No final do século 19, quando a escravidão definhava, resolveu produzir, além dos tecidos grossos, produtos mais finos --de olho no mercado assalariado que começava a prosperar.

A própria fundação da empresa é fruto de turbulências internacionais. A Guerra Civil dos EUA (1861-1865) desestruturou as fazendas escravocratas sulistas, produtoras do algodão que nutria as tecelagens inglesas. Bernardo Mascarenhas, fazendeiro mineiro, enxergou aí uma oportunidade de negócio no Brasil.

Reuniu irmãos e resolveu construir uma fábrica de chita em pleno Brasil agrário e escravocrata. Aos 18 anos, sem falar inglês, foi para a Inglaterra e os EUA comprar máquinas. Pediu conselhos para Thomas Edison para a instalação de eletricidade.

Num raro caso no mundo dos negócios, a quinta geração de Mascarenhas mantém o controle da empresa.

O grupo Coteminas (fundado por José Alencar, vice-presidente no governo Lula) tem 18% do capital votante. O fato, volta e meia, gera rumores de que a companhia do clã Mascarenhas pode ser vendida. "Sempre tem o balão de ensaio de que eles vão comprar. Mas não temos nenhum interesse em nos desfazermos do controle", diz Cristiano Mascarenhas, presidente do conselho de administração da Cedro.


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