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Análise

Debate sobre o fraco crescimento recente do Brasil está míope

BRÁULIO BORGES ESPECIAL PARA A FOLHA

O gráfico ao lado já deveria dizer muita coisa sobre uma das principais razões por detrás do crescimento fraco da economia brasileira nos últimos anos.

Não custa lembrar que a grande crise financeira recente --a mais severa desde aquela que começou em 1929-- teve início no final de 2008 e ainda não foi integralmente superada.

Não obstante, muitos analistas não identificam o crescimento fraco da economia mundial nos últimos anos --sobretudo de 2011 em diante, a segunda perna da recuperação em formato de W após o tombo de 2008/09-- como um dos principais fatores por detrás do também frustrante desempenho da economia brasileira nesse período.

Os efeitos negativos de um mundo fraco sobre o Brasil se manifestaram tanto por meio do canal do comércio exterior (as exportações mundiais e brasileiras praticamente andaram de lado nesse período) como pelo canal das expectativas (em um quadro de incerteza bastante acima da média).

BID e FMI divulgaram no começo de abril estudos que jogam uma boa luz sobre essa discussão.

No estudo do BID (capítulo 2 do relatório "Global Recovery and Monetary Normalization: Escaping a Chronicle Foretold?"), os autores utilizaram uma abordagem que envolveu uma modelagem estatística das 35 principais economias do mundo.

A partir disso, foi realizado um exercício contrafactual, cujo resultado apontou que a desaceleração da economia brasileira (e da mexicana) nos últimos anos foi essencialmente explicada pelo crescimento reprimido nas economias centrais.

Já no estudo do FMI (capítulo 4 do "World Economic Outlook" mais recente) foi adotada outra abordagem estatística, buscando decompor o crescimento das economias emergentes entre fatores internos e externos.

Considerando os emergentes em conjunto, o FMI concluiu que aproximadamente metade da desaceleração do crescimento do PIB dessas economias nos últimos anos (em relação à média do período 1998-2013) se deveu a fatores externos e a outra metade, a fatores internos. No caso do Brasil, contudo, os fatores externos pesaram ainda mais, cerca de 2/3.

O FMI elaborou uma segunda variante do modelo, em que o PIB da China passou a ser considerado como uma variável exógena, dado o forte aumento de sua relevância na economia global nos últimos tempos (colocando-a lado a lado com algumas economias centrais).

A conclusão, ao menos no que se refere ao caso brasileiro, foi basicamente a mesma do estudo do BID: quase 30% da desaceleração recente do crescimento do PIB brasileiro em relação à média observada entre 1998 e 2013 (que foi de +3,1% a.a.) adveio da desaceleração da China; pouco menos de 60% deveram-se a outros fatores externos; e o restante, a internos.

Todas essas conclusões não implicam dizer, obviamente, que os fatores domésticos foram irrelevantes.

Além da deterioração da qualidade da política econômica (sobretudo fiscal/quasifiscal) ter pesado negativamente sobre as expectativas dos agentes econômicos do final de 2012 em diante, houve uma queda do potencial de crescimento --que passou de cerca de 3,5% ao ano entre 2008 e 2012 para algo mais próximo a 3% no ano passado, em função principalmente de uma desaceleração da expansão da oferta de mão de obra (parte permanente, parte possivelmente temporária).

Desse modo, parece haver uma grande miopia nesse debate sobre o crescimento fraco do Brasil nos últimos anos.

De um lado, o governo, jogando toda a culpa lá fora, esquivando-se de sua responsabilidade. Do outro, vários analistas menosprezando a importante influência do quadro externo.

É verdade que a análise fica bem mais complexa quando se levam em conta tanto os fatores internos como os externos. Mas quem disse que economia é assunto simples?


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