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Avião pode ser pago com café ou milho
Negócio, resultado de parceria entre TAM e C&BI Agro Partners, é um dos que permitem compra com safra futura
Cartão também torna possível comprar insumos e até pagar salários com empenho da colheita prevista
O escambo --prática que envolve a troca de produtos sem envolver dinheiro-- chegou à Agrishow, principal feira do agronegócio brasileiro, que projeta negociar R$ 2,6 bilhões até sexta-feira.
Na feira, é possível comprar neste ano um avião e fazer o pagamento em soja, café ou milho.
O negócio é possível por meio de uma parceria entre a TAM Aviação Executiva e a C&BI Agro Partners, braço financeiro da Ceagro, empresa de comércio de grãos.
O comprador da aeronave faz um contrato com a C&BI para entregar parte da produção ao final da safra, em valor equivalente ao financiado. O preço da saca é definida com base na cotação do grão no mercado futuro da Bolsa de Chicago (EUA).
É possível pagar todo o valor da aeronave por meio desse expediente. O limite fica apenas por conta do crédito aprovado pela C&BI.
O gerente de vendas da TAM, Humberto Vinhais, afirmou que a parceria nasceu da percepção das necessidades dos produtores.
"É como se fala de brincadeira: Quantas cabeças de gado custa esse avião?'. Só que em sacas de soja", disse.
Um Cessna Skyhawk (US$ 380 mil), por exemplo, ontem sairia por cerca de 19 mil sacas de soja, o equivalente à metade da safra de um pequeno produtor de Mato Grosso com mil hectares, de acordo com o presidente-executivo da Ceagro, Antonio Carlos Gonçalves Junior.
Mas aviões não são os únicos produtos que podem ser comprados com a promessa de entrega futura da safra.
Neste mês a C&BI lançou uma espécie de cartão de crédito que permite a aquisição não apenas de produtos agrícolas e insumos para a produção mas a realização de todo tipo de gasto, como pagamento de salários e a compra de produtos diversos.
"O cartão foi idealizado para o produtor pagar à vista e liquidar quando ele colher", afirmou Gonçalves Junior.
Por trabalhar negociando grãos, a empresa ganha por aumentar seu volume disponível para comercialização, segundo ele.
Para usar o cartão, o produtor emite uma CPR (Cédula de Produto Rural) em favor da C&BI, instrumento já usado normalmente na negociação futura da safra.
TAXA MAIS BAIXA
Outra facilidade na compra de aeronaves, principalmente para os exportadores, é poder contratar o financiamento em dólar com taxas de juros praticadas nos EUA, mais baixas que as do mercado financeiro nacional.
Segundo o diretor de vendas da Líder Aviação, Philipe Figueiredo, as taxas vão de 2,5% a 4% ao ano, enquanto nos bancos privados do país ficariam entre 10% e 12%.
"É vantajoso, principalmente quando o cliente é um exportador", disse. Isso porque, em caso de mudança no câmbio, a receita também varia conforme o dólar.
A empresa representa no país a Beechcraft e neste ano passou a vender também aeronaves da Bombardier.
Segundo Figueiredo, hoje 70% dos aviões vendidos pela Líder são para o setor do agronegócio. Em 2012, essa proporção era de 60%.
"O avião hoje é uma ferramenta de trabalho do produtor", disse. "Ele decide a compra fazendo contas sobre produtividade como faz para comprar uma colheitadeira."
O agronegócio puxou as vendas também da Embraer, que no ano passado vendeu a maior quantidade de aeronaves agrícolas desde 2004.
Foram 70 unidades do Ipanema, modelo usado para pulverizar plantações. A marca, que igualou 2004, só foi superada em 1976, década de lançamento do modelo, com 79 unidades.