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Samuel Pessôa

A conta ficou salgada

Os 6,5% de inflação de dezembro serão mais difíceis de trazer para a meta que os 12,5% de dezembro de 2002

Há reconhecimento de que no próximo ano será necessário forte ajuste econômico, como há a mais de uma década não se vê.

Às vezes a dinâmica macroeconômica prega-nos peças dignas da política. Desta, diz-se que se altera como nuvens. Cada vez que paramos para olhar, a situação pode ter mudado radicalmente. Com exceção de choques externos não previstos, como a crise de setembro de 2008, a conjuntura econômica apresenta mais estabilidade do que as nuvens.

No último mês, no entanto, vivenciei o caráter fugidio incomum da conjuntura econômica. Minha percepção sempre foi que tínhamos forte ajuste pela frente, mas certamente menos intenso do que em 2003. Mas subitamente notei que já se trata de arrumação de casa mais difícil do que no primeiro ano do mandato de Lula.

A inflação em 12 meses em dezembro de 2002 era de 12,5%, o dobro da atual, de 6,15%. No entanto, parece-me que o nível de 12,5% de dezembro de 2002, sob certos aspectos, é "menor" do que os 6,5% ou pouco mais que teremos em dezembro de 2014.

O componente mais estável da inflação, relativo aos serviços, roda na casa de 8,5% anuais há mais de três anos. Em dezembro de 2002, a inflação de serviços era de 5,5%.

A expectativa de inflação 12 meses à frente do Focus em dezembro de 2002 era de 5,6%, enquanto hoje está na casa de 6,4%.

Finamente, em 2002 os preços administrados foram reajustados em 14,7%, ante 3,4% nos últimos 12 meses. Ou seja, em dezembro de 2002 não havia nenhuma defasagem tarifária.

A elevada inflação de dezembro de 2002 era integralmente de bens, fruto da forte desvalorização cambial em consequência do risco de um governo petista. De fato, em dezembro de 2002 o câmbio nominal estava em R$ 3,5 por dólar americano, ante R$ 2,3 atualmente.

Ou seja, o próximo presidente receberá inflação entre 6,5% e 7%, com serviços rodando a 8,5%, com atraso tarifário que aumentará no momento de sua correção a inflação em 1,5 ponto percentual. Adicionalmente a inflação estará muito mais consolidada, com expectativas da inflação 12 meses à frente na casa de 6,5% ou mais.

Para piorar a situação, para um deficit de transações correntes acumulado em 12 meses de 1,6% do PIB em dezembro de 2002, temos hoje 3,7%, a caminho de 4%. Serão necessárias novas rodadas de desvalorização do câmbio, além, evidentemente, de outras medidas para conter a demanda, para trazer esse deficit para mais próximo de 1,5% do PIB. A desvalorização do câmbio colocará nova pressão sobre a inflação.

Para completar a lista de dificuldades do próximo ano, vale lembrar que, em dezembro de 2002, o superavit primário do setor público consolidado era de 3,2% do PIB, o que se compara com a previsão do Ibre de 1,3% para 2014. Se consi- derarmos o primário líquido de receitas extraordinárias, neste ano o Tesouro entregará resultado de 0,8% do PIB.

Será necessário em 2015 recompormos o superavit primário para algo entre 2,5% e 3% do PIB. Diversas medidas de desoneração tributária terão que ser desfeitas, além de, possivelmente, ser necessá- rio criar novas bases tributárias. Ambas as medidas pressionarão a inflação.

Por esses motivos, afirmo que os 6,5% de inflação de dezembro de 2014 serão mais difíceis de trazer de volta para a meta do que os 12,5% de dezembro de 2002.


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