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Cifras e Letras
Crítica economia global
Livro de BCs peca em uma das funções de banqueiro central
Edição brasileira promete 'segredos', que não são o foco principal da obra
A capacidade de se comunicar bem com o mercado é uma das virtudes cada vez mais exigidas de um bom banqueiro central. Afinal, uma frase solta ou uma vírgula perdida podem gerar perdas bilionárias para investidores, podendo afetar até mesmo a economia "real".
A versão brasileira de "Os Grandes Alquimistas Financeiros" se comporta como uma autoridade monetária que promete, em documento, anunciar um grande estímulo financeiro, mas que não se torna realidade e decepciona quem decidiu aplicar --seu tempo-- nele.
Diferentemente do que consta, por exemplo, na sua edição nos Estados Unidos, a obra publicada pela Elsevier no país afirma, em seu subtítulo, que o livro do jornalista americano Neil Irwin trará "histórias secretas" sobre banqueiros centrais.
Mas o segredo não é o forte da obra de Irwin, ela é sim um bom documento sobre os desafios e as decisões de Ben Bernanke (ex-presidente do Fed, o banco central dos EUA), Jean-Claude Trichet (que comandou o Banco Central Europeu) e Mervyn King (ex-líder do banco central britânico) desde meados de 2007, quando o fechamento de três fundos do banco francês BNP Paribas deu o primeiro sinal mais forte de que algo grave estava acontecendo com a economia global
Engana-se, portanto, quem esperar algo parecido com "Os Donos do Dinheiro --Os Banqueiros que Quebraram o Mundo" (LeYa), ótimo livro de Liaquat Ahamed, ganhador do prêmio Pullitzer, com histórias saborosas sobre os banqueiros centrais dos Estados Unidos, da França e do Reino Unido nos anos 1920.
A obra de Ahamed, no entanto, é preciso dizer, conta com algo que a de Irwin não tem: o tempo, necessário para maturar as decisões tomadas pelos dirigentes de bancos centrais, para que documentos sejam revelados e até para que essas autoridades abram mais detalhes sobre as pressões que enfrentaram no posto --Bernanke, o último dos três a deixar o cargo, esteve no comando do Fed até o início deste ano.
Trata-se, portanto, de um relato sóbrio sobre o que aconteceu com a economia nesses últimos sete anos especialmente e com as decisões que foram tomadas desde então e que continuam a ter impacto em todo o mundo --caso, por exemplo, do estímulo adotado pelos EUA no fim de 2012 e que ainda se reflete na moeda de vários países, inclusive do Brasil.
Até porque as medidas tomadas pelos banqueiros para conter a crise global têm poucos anos, Irwin, que hoje trabalha no "New York Times", raramente faz uma crítica mais profunda sobre as decisões, algo correto para não reduzir o tempo de validade da obra.
Sem a "falsa promessa" de segredos, o livro do jornalista americano deve ser visto como uma obra para quem quer entender os bastidores das decisões dos grandes bancos centrais nesses anos de turbulência global.