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Cifras & letras

CRÍTICA HISTÓRIA

Livro percorre alianças entre bancos e o governo dos EUA

Autora mostra relações desde a criação do banco central norte-americano

ELEONORA DE LUCENA DE SÃO PAULO

Na ilha de Jekyll, no litoral da Geórgia, costa leste dos EUA, surgiu o conceito de condomínio de milionários. Lá, no início do século 20, banqueiros, políticos e industriais passavam férias exclusivas numa paisagem onde predominavam carvalhos, pântanos, dunas e ventania.

Em 1910, o lugar foi cenário de uma reunião secreta. Por dez dias, um seleto grupo de banqueiros e altos funcionários do governo norte-americano discutiram as bases da criação do banco central dos EUA, o Fed.

Os Estados Unidos se recuperavam do pânico de 1907 e constatavam que precisavam de solidez no sistema bancário, cada vez mais amplo. Os barões industriais e seus filhos estavam se transformando em financistas e queriam uma fórmula para enfrentar emergências e catapultar sua influência pelo mundo.

A criação do Fed, em 1913, significou a aliança entre os poderes da presidência da República e dos banqueiros. Apesar da retórica da independência técnica, o banco central serve primeiro aos banqueiros, mantendo o fluxo de dinheiro e atuando como emprestador de última instância.

A visão é da jornalista norte-americana Nomi Prins no recém lançado "All the Presidents' Bankers - The Hidden Alliances that Drive American Power" [todos os banqueiros dos presidentes, as alianças ocultas que movem o poder americano]. "A matemática das operações do Fed foi concebida para servir principalmente os grandes bancos", escreve.

Num trabalho minucioso, ela recupera cartas, jantares, telefonemas, documentos que contam a história dessa relação solidificada a partir do jantar de peru recheado com ostras na ilha de Jekyll há mais de cem anos.

GUERRAS E CRISES

Já na Primeira Guerra Mundial, onde foi importante a atuação do banco Morgan, o livro mostra como se confundiram os interesses de bancos e governo. Papéis para levantar fundos para guerra foram lançados amplamente.

Pequenos agricultores, trabalhadores urbanos e empresários se transformaram em investidores, num movimento que, depois, desaguaria na crise de 1929. Dinheiro barato do Fed para os bancos pavimentou a explosão especulativa daqueles anos.

Na recessão dos anos 1930, bancos foram criticados por segurar empréstimos para mover a economia. Mais do que isso: investigações comprovaram práticas fraudulentas e manipulações que levaram o país ao desastre.

Com Franklin Delano Roosevelt, os banqueiros viveram tempos tensos, com a aprovação de legislação restritiva. A lei Glass-Steagall, de 1933, forçou a separação entre bancos comerciais e de investimentos (ela só seria derrubada por Bill Clinton em 1999). Rooselvet, amigo e vizinho de Morgans, Rockefellers e Vanderbilts, chegou a ser classificado por eles como um traidor de sua classe.

A Segunda Guerra Mundial turbinou o desempenho dos EUA e estreitou as relações entre as finanças e governo para acelerar a economia. Foi quando os bancos norte-americanos dispararam sua internacionalização, consolidando a dominação do dólar.

MAIS PODEROSOS

A partir do governo Reagan, começa a desregulamentação, beneficiando os grandes bancos, que passam a concentrar mais poder. No final dos anos 1990, milionárias contribuições a partidos políticos ocorreram na derrubada da legislação que restringia ações nas finanças --abrindo a porta para a crise que estourou em 2008.

Detalhista até a gestão Carter, o livro fica mais rarefeito quando entra nos anos 1980. Segundo a jornalista, existe dificuldade em obter informações de bastidores a partir desse período --não há gravações da Casa Branca desde Nixon, e banqueiros não costumam escrever cartas e telegramas como antes.

Já tendo atuado em instituições de Wall Street, Prins é pessimista. Enxerga bancos mais poderosos, interconectados e com menos preocupação com o público. Para ela, Obama não tem poder para forçar reconstrução nas finanças, que hoje ocupam uma posição de maior influência do que antes do crash de 1929.

"ALL THE PRESIDENTS' BANKERS - THE HIDDEN ALLIANCES THAT DRIVE AMERICAN POWER"
AUTORA Nomi Prins
EDITORA Nation Books
QUANTO A partir de US$ 15 (R$ 33,45; 544 págs.)
CLASSIFICAÇÃO Bom


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