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Cifras & letras

CRÍTICA MERCADO FINANCEIRO

Livro cria herói artificial que tenta substituir Wall Street

Autor torna história de executivo vibrante, mas simplifica seu contexto

É uma história de um Dom Quixote: As bolsas de valores e os bancões seguem fazendo tudo como antes

PAULA LEITE EDITORA DO EMPREENDEDOR SOCIAL

No novo livro de Michael Lewis, "Flash Boys" [meninos instantâneos], o executivo Brad Katsuyama segue uma trajetória muito similar à do dirigente Billy Beane, do livro "Moneyball" [bola de dinheiro], do mesmo autor.

Beane liderou o que deveria ter sido uma revolução no beisebol, usando o poder dos dados e das estatísticas para criar um time melhor e mais barato.

Deveria ter sido uma revolução, mas não foi: o Oakland Athletics de Beane continua sem ganhar um campeonato nacional há 24 anos. Apesar de toda a inovação, continua sendo um "player" pequeno em um mundo de gigantes como os New York Yankees e os Boston Red Sox.

Em "Flash Boys", Katsuyama segue a mesma trajetória de peixe pequeno que tenta mudar o mundo, só que desta vez em Wall Street. No final, porém, sofre o mesmo destino de Beane: o mundo dos peixes grandes continua funcionando exatamente da mesma forma que funcionava antes de ele chegar.

O livro de Lewis tem o mérito de ser bastante claro, didático e transparente a respeito de tema árido: o chamado "high frenquency trading", a compra e venda de ações por computadores em velocidades medidas em microssegundos (um milionésimo de segundo).

Lewis mostra como as Bolsas de Valores e os grandes bancos de investimento dos EUA (como o Goldman Sachs) passaram a oferecer uma espécie de "acesso privilegiado" em seus sistemas a esses investidores cibernéticos.

Com isso, esses robôs conseguem "correr" na frente do investidor comum e ganhar dinheiro. É como se tivessem informação privilegiada por alguns microssegundos, o suficiente para fazer estrago.

Parece complicado, mas Lewis tem o dom de fazer parecer simples e tornar a luta de Katsuyama contra toda essa sacanagem uma história interessante e vibrante.

O executivo fundou uma nova Bolsa de Valores, em que esse tipo de acesso privilegiado não é permitido, o que limita muito a ação dos "high frequency traders".

Para isso, primeiro passou anos tentando entender o que exatamente esses investidores estavam fazendo e quem os ajudava, já que falta muita transparência nos mercados financeiros, como a crise de 2008 deixou claro.

SEM CONQUISTAS

No fim das contas, porém, é uma história de um dom Quixote: a Bolsa de Katsuyama existe e deu certo, mas é uma empresa pequena no mercado. Os "high frequency traders" continuam aí, ganhando bilhões. As Bolsas de Valores e os bancões continuam fazendo tudo como antes. A revolução ainda não se concretizou.

Chama a atenção também o fato de que nenhum único representante do "outro lado", dos supostos sacanas, seja ouvido.

"Flash Boys" é mais uma prova de que, na obra de Lewis, a vontade de simplificar e tornar o mundo preto e branco resulta em um quadro incompleto e falho.

"FLASH BOYS: A WALL STREET REVOLT"
AUTOR Michael Lewis
EDITORA W.W. Norton & Co.
QUANTO A partir de US$ 15,50 (288 págs.)
CLASSIFICAÇÃO Regular


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