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Burocracia e desconfiança são travas à infraestrutura
'Dinheiro tem', afirma Marcelo Odebrecht, mas exigência de garantias inviabiliza projetos
Executivo europeu ficou espantado com número de parcerias público-privadas que não saíram do papel
O financiamento não é o principal problema para fazer deslanchar as obras de infraestrutura no Brasil. O diagnóstico de executivos de empresas que atuam na área é que a burocracia e a desconfiança quanto ao cumprimento de contratos são o principal entrave ao investimento.
Presidente de uma das maiores construtoras do país, Marcelo Odebrecht disse que a exigência de garantias do investidor, para mitigar os riscos da construção e também os riscos políticos (do projeto ser abandonado quando muda o governo, por exemplo) dificultam a viabilidade dos projetos.
"O pessoal fala muito em financiamento, eu acho que dinheiro tem. O problema está nas garantias", afirmou.
Para ele, o entrave deve ser enfrentado porque o modelo de financiamento das obras está mudando. Em vez de um único fornecedor de recursos, normalmente um banco estatal, os projetos deverão ser bancados pelo mercado de capitais. Isso é esperado devido à crescente limitação do governo em ofertar recursos públicos.
"Com isso, vamos ter que resolver o prêmio de risco de construção e político", disse.
Odebrecht participou de debate, organizado pelo BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), que reuniu executivos de empresas fornecedoras de equipamentos.
Representantes da Mitsubishi e da General Electric foram enfáticos ao defender a necessidade de dar confiança ao investidor de longo prazo de que seu investimento terá retorno.
"É preciso ter confiança de que o projeto vai ser viável no futuro como era no início, de que os contratos serão mantidos", disse Reinaldo Garcia, presidente da GE para a América Latina.
Segundo ele, existe interesse de fundos globais de investimento em apostar em projetos na América Latina.
"A pergunta que sempre vem é: qual será a minha garantia de retorno? A garantia de que eu posso confiar no contrato e serei pago daqui a 20 anos? Esse ponto é fundamental", disse ele.
Garcia acrescentou que as PPPs (Parcerias Público-Privadas) são alternativas ideais quando faltam gestão e financiamento. Porém, esse instrumento esbarra em entraves burocráticos do governo.
"Não é a burocracia dos líderes, é a daquela pessoa que fica no cargo por muitos anos e que tem aversão a tomar risco. Em alguns países [como o Brasil], a decisão e a responsabilidade são da pessoa que está no cargo. Isso leva a um vai-não vai, e os projetos ficam parados naquele meio de campo", afirmou.
Outro executivo que participou do debate, Henk Jong, presidente da Phillips para a América Latina, afirmou, com espanto, que no Brasil há 4 mil PPPs que não saíram do papel. "A América Latina tem uma necessidade enorme [de infraestrutura], tem dinheiro e tem vontade. Então, é preciso tentar fazer as coisas saírem do papel."
O executivo europeu afirma que os países latino-americanos e cidades brasileiras poderiam trocar experiências para tomar decisões nessa área de maneira mais rápida.
"Como fazer mais? Simplificar", disse.