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Carona da discórdia

Avaliado em US$ 18 bilhões, aplicativo para contratação de táxi e limusines incomoda motoristas de grandes cidades

DO "NEW YORK TIMES"

A ideia foi descrita como "loucura", "insana" e "idiota". Quando o Uber, um aplicativo para contratação de limusines e serviços de táxi, foi avaliado em US$ 18,2 bilhões neste mês, houve um resmungo coletivo de incredulidade.

É difícil acreditar que uma empresa criada há quatro anos e que existe em um iPhone possa valer mais do que Alcoa, Tiffany e Whole Foods --e também do que Hertz Global Holdings e Avis Budget.

Mas talvez a avaliação gigantesca da Uber seja baixa demais. Pense na matemática básica. Existem muitos números circulando sobre a demanda mundial por táxis, mas a base é a seguinte: nos EUA, o negócio de táxis movimenta US$ 11 bilhões ao ano, segundo a IBISWorld.

Em grandes cidades como Nova York e Londres, o jornal britânico "Financial Times" afirma que uma pessoa gasta US$ 238 ao ano em táxis, em média. Se você extrapolar que o Uber pode um dia controlar um quarto do mercado mundial de táxis, investir nele seria uma ótima pedida.

Hoje, o app opera em 128 cidades de 37 países (no Rio, no caso brasileiro), e diz dobrar o seu faturamento a cada seis meses.

Segundo o site "TechCrunch", a receita da Uber foi de US$ 213 milhões em 2013, sobre mais de US$ 1 bilhão em serviços prestados --recebe comissão de 20% sobre o valor cobrado pelos motoristas.

Se a Uber controlar menos da metade do mercado de táxis dos EUA --e de mais nenhum outro país--, faturaria mais de US$ 1 bilhão ao ano.

Além disso, ela vem atraindo novos clientes --pessoas que não usavam táxis ou limusines, ou ao menos não o faziam com tanta frequência.

Ela não é dona dos veículos. Seus maiores custos se relacionam a prover a tecnologia que aciona a rede de carros, e cobrir custos de marketing e de apoio aos motoristas. Ou seja, ela opera com alta margem de lucro.

Há quem diga que a Uber não é uma companhia de táxis, mas só o começo de um serviço mundial de entregas muito mais amplo.

Travis Kalanick, o presidente-executivo da empresa, fala sobre a Uber como uma plataforma de software extensa para transporte e logística. É duvidoso que Kalanick venha a ser capaz de enfrentar a FedEx ou UPS no futuro próximo, mas ele já lançou um serviço de entregas em Nova York com o app da Uber.

"A Uber está criando uma malha digital --uma rede elétrica que cobre as áreas metropolitanas", disse Shervin Pishevar, um dos investidores iniciais na empresa, sobre a Uber, no ano passado.

"Depois que essa rede elétrica estiver operando, existem inúmeras possibilidades sobre o que se pode construir usando a plataforma. A Uber está incorporada nessa fase de construção de império."

DISCÓRDIA

A Uber diz ser responsável pela criação direta de 20 mil novos empregos ao mês. O que impressiona é que esses empregos não pagam mal.

Em Nova York, a empresa diz que um motorista do UberX, seu serviço de táxis de preço mais baixo, pode faturar mais de US$ 90 mil ao ano. O motorista de um táxi regular da frota nova-iorquina de táxis amarelos ganha cerca de US$ 30 mil ao ano.

Mas isso não significa que todos os motoristas de táxis estejam convencidos sobre os benefícios da Uber, e alguns estão tentando organizar um sindicato nacional, nos EUA, em parte por causa da concorrência que a Uber cria.

Até o momento, a Uber não tem grandes rivais, e parece que nesse segmento o modelo prevalecente será o de que o vencedor leva tudo.

Esses negócios sofrem um efeito de rede: quanto mais pessoas baixam o app, mais motoristas assinam e mais rapidamente surge um ciclo de reforço positivo. Isso força a saída dos concorrentes, que acabam sofrendo um desequilíbrio entre o número de passageiros interessados e o de motoristas disponíveis.

A perspectiva de regulamentação continua a ser um potencial problema que demorará a desaparecer. Em Londres, os taxistas estão protestando contra a invasão dos motoristas da Uber, e em cidades como Paris as autoridades regulatórias dificultam o avanço do serviço por medo de que ele prejudique as empresas existentes.

Em Nova York, porém, estranhamente, até o momento a ascensão da Uber não vem afetando negativamente o valor das licenças para operar táxis. No final de 2013, elas estavam avaliadas em cerca de US$ 1 milhão, o dobro de seu valor em 2008. Em Boston os preços das licenças subiram, e não caíram.

Se você ainda não consegue entender por que a Uber recebeu uma avaliação tão generosa, considere o pessoal do "smart money", como Fidelity e Black Rock, que investiu US$ 1,2 bilhão na empresa antes de sua avaliação mais recente, e apenas dez meses depois de ela ter sido avaliada em US$ 3,5 bilhões.

Virtualmente, essas companhias fizeram pequenas fortunas com seu recente investimento, e optaram por se manter como investidores de longo prazo, apostando que o valor da Uber subirá mais.


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