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Entrevista Porter Erisman

Comércio eletrônico na China é revolucionário

Ex-executivo do Alibaba, americano conta como foi a criação da companhia, que pode levantar US$ 20 bi em Wall Street

MARCELO NINIO DE PEQUIM

De um pequeno apartamento e uma equipe de 17 pessoas, a chinesa Alibaba tornou-se em 15 anos a maior empresa de comércio eletrônico do mundo e está prestes a abrir o capital nos EUA.

Porter Erisman, americano que chegou à China em busca de aventuras, nunca imaginou que seria testemunha da criação de um colosso.

Ele entrou na empresa em 2000, um ano após sua criação, quando ainda funcionava no apartamento de Jack Ma, o professor de inglês que fundou o Alibaba.

Vice-presidente da empresa por oito anos, Erisman acompanhou de perto a vitória improvável do Alibaba sobre o gigante do comércio eletrônico americano Ebay.

Se confirmadas as expectativas, a empresa deverá arrecadar em Wall Street mais de US$ 20 bilhões, tornando-se a maior oferta pública inicial de uma empresa de tecnologia da história.

Erisman saiu do Alibaba, mas a firma não saiu dele. Sua vida agora é rodar o mundo para exibir o filme que dirigiu sobre o Alibaba, "Crocodile in the Yangtze" (crocodilo no rio Yangtzi, não lançado no Brasil).

Em entrevista à Folha, o executivo norte-americano relembrou os primórdios da empresa e explicou as dificuldades que as empresas de tecnologia têm para operar no gigante asiático.

Folha - Como era a atmosfera no início da empresa?

Porter Erisman - Quando eu cheguei, em 2000, [o Alibaba] era um grupo desordenado de professores e sonhadores. Eu nunca imaginei que a empresa cresceria para ser o que é hoje. Mas eles tinham um objetivo desde o primeiro dia. Jack Ma já dizia na época que queria construir um dos dez maiores sites do mundo. E eu olhava para essa equipe e pensava: eu também sou um sonhador, mas esse é um sonho impossível. Mas, se não tivessem este sonho, talvez não conseguiriam ser tão grandes.

Qual o segredo do sucesso?

É clichê, mas foi focar no que os consumidores queriam e servi-los. Nós percebemos que podíamos ajudar nossos clientes a ganhar dinheiro on-line. Por isso o serviço foi gratuito por muitos anos.

Resistimos a ter lucros rápidos somente para deixar os investidores felizes. A política do Alibaba foi ficar rico lentamente.

Por isso é que a empresa levou 15 anos para chegar a este ponto. Mas foi a política de longo prazo que permitiu que ela sobrevivesse.

Em que medida o fato de a China ter ficado décadas com a economia totalmente controlada pelo Estado, sem infraestrutura de comércio, ajudou o florescimento do e-commerce no país?

Em 2000 era inconcebível que uma empresa de e-commerce na China pudesse ser um grande sucesso. Não havia os sistemas operacionais, transporte, logística, nem usuários de internet. Quando começamos, havia uma longa lista de motivos para que não funcionasse na China. O que Alibaba provou foi que se você solucionar esses problemas e construir um ecossistema é possível conquistar uma grande fatia do mercado.

Eu sempre digo que o e-commerce no Ocidente é evolucionário, enquanto que na China é revolucionário, justamente pelas razões que você menciona. Nos EUA você vai para um shopping center e tem tudo, não precisa do e-commerce. Na China muitas vezes não há alternativa ao e-commerce, especialmente nas cidades do interior. Jack Ma costuma dizer que no Ocidente o e-commerce é a sobremesa, mas na China é o prato principal.

A internet na China sofre forte controle do governo. Isso afeta o Alibaba?

No começo o governo ficou nervoso com o e-commerce. Mas nós seguimos adiante, abrindo caminho, forçando os limites. Queríamos mostrar que o e-commerce criaria empregos. Nossa tática foi manter a discrição, fazer experiências e, só depois que ficava provado o valor para a economia e a sociedade, levávamos à atenção do governo.

Em seu filme, Jack Ma justifica a subserviência à censura do governo, dizendo que é preciso respeitar as leis do país. Qual sua opinião?

Bem, hoje em dia jornalistas vão para o Brasil para escrever sobre o que o governo americano faz, como no caso Snowden. Eu acho que devemos ter diferentes expectativas de empresas estrangeiras e chinesas operando na China. É muito difícil esperar de um empreendedor chinês fazer da missão de sua companhia dramaticamente mudar o cenário político no país.

Os empreendedores chineses nascidos na China focam na construção de negócios. Mesmo assim, empresas de internet na China estão tornando o país mais democrático, apesar do controle do governo. As empresas estrangeiras que vêm para a China têm uma escolha: estão dispostas a operar no sistema legal da China? O Google, por exemplo, tomou a decisão de que não é consistente com seus valores. Os empreendedores chineses não têm escolha. Mas os negócios que eles estão montando estão transformando a China.

Como a abertura do capital mudará a empresa?

O objetivo do Jack Ma era fazer o IPO em 2002. Só está acontecendo agora porque ele dizia que a empresa só deveria abrir o capital quando estivesse forte o suficiente para resistir a pressão dos investidores. Acho que estão fazendo agora porque se sentem fortes. Mas será um desafio administrar essa pressão.


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