Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Mercado

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Vinicius Torres Freire

'Ai que loucura' de economia

Políticas para dólar, juros de bancos estatais, indústria e inflação BC batem cabeça e custam caro

QUASE TÃO feio quanto o técnico da Alemanha cutucar o nariz em rede mundial de TV é um Banco Central "moderno" admitir que dá um jeitinho de segurar o "preço do dólar" a fim de controlar a inflação.

Portanto, o Banco Central do Brasil jamais dirá que procura manter o dólar em torno de R$ 2,30; entre R$ 2,20 e R$ 2,40. Um dólar mais alto, como se sabe, encarece os produtos importados e aqueles negociáveis no mercado mundial.

No entanto, é isso o que o BC tem feito, ao menos desde agosto de 2013. Então começou a política de vender dólares e equivalentes ao mercado, quando a moeda americana saltava além de R$ 2,40 devido ao tumulto suscitado por medo e especulação de que a política monetária dos EUA mudaria logo, o que reduziria a oferta de capital para países "emergentes".

Houve nova rodada de tumulto, por motivos assemelhados, no primeiro bimestre.

Desde então, calmaria.

A intervenção do BC acalmou o mercado. Variações violentas do preço do dólar podem de fato dar em besteira, avariar empresas e bancos, desorientar negócios etc. Houve no entanto tempo para que o setor privado se ajustasse, o cenário é de calmaria e, enfim, o BC sempre pode voltar ao mercado se o caldo entornar. Por que então persiste a venda de dólares?

A taxa de câmbio real vai se valorizando. Isto é, o efeito conjunto de inflação persistente e dólar barato encarece os produtos brasileiros. Esse é um dos motivos pelos quais nosso deficit externo continua pela casa dos 3,7% do PIB, alto para um país em quase-estagnação, alto para um país que pode ter de enfrentar alguma secura de capitais em 2015 (deficit, consumo excessivo no exterior, precisam ser financiados pela entrada de dólares, que ficam mais ariscos se o país é deficitário demais).

De resto, o excesso de consumo no exterior é um dos motivos pelos quais a indústria brasileira tem andado na lona, sem crescer.

Para compensar o efeito daninho de dólar barato e custos altos, o governo reduz impostos e empresta dinheiro a juro zero às grandes empresas, que no entanto nem assim investem mais, embora com este arranjo demitam menos.

Os empréstimos subsidiados, os juros baratinhos dos bancos estatais, porém, prejudicam a política do BC, que é a de aumentar juros a fim de conter o crédito, a atividade econômica e, assim, a inflação.

De abril de 2013 a abril de 2014, a taxa "básica" de juros "do BC" aumentou 3,75 pontos percentuais. A taxa média de juros no mercado (de empréstimos dos bancos para clientes) subiu menos: 2,62 pontos. Por quê? Porque a taxa dos empréstimos nas linhas reguladas pelo governo aumentou 1 ponto; no crédito dito "livre", de mercado, a taxa de juros subiu 5,46 pontos.

Ou seja, a política de aumento de juros do Banco Central é minada pelos juros baixos e pelo crédito em alta dos bancos públicos: uma política vai na contramão da outra.

Assim, o custo de controlar a inflação aumenta, se não se torna um desperdício (alta de juros por mais tempo mantém a economia se arrastando por mais tempo, além de causar o aumento da despesa com os juros da dívida pública).

Mais uma vez: nada disso faz o menor sentido.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página