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Venezuela muda câmbio e complica vida das múltis

País mexe em bolívar supervalorizado e cria três taxas diferentes

Mudança impede que empresas continuem apresentando receitas e lucros em dólar inflados; ações podem cair

WILLIAM NEUMAN DO "NEW YORK TIMES", EM CARACAS

A Brink's, operadora de carros blindados, pode ver o desaparecimento de cerca de US$ 400 milhões em faturamento neste ano, em suas operações na Venezuela. A Procter & Gamble anunciou estar contabilizando prejuízo de US$ 275 milhões em suas operações, e a American Airlines e a Delta Airlines estão reduzindo os voos ao país.

A Venezuela, no passado um aparente centro de lucros para as multinacionais, se parece cada vez mais com um buraco negro financeiro.

A despeito do governo socialista do país, grandes empresas norte-americanas e de outros países prosperaram lá durante anos, beneficiadas pela concorrência limitada, pelos consumidores ávidos por grifes e pelos estreitos laços comerciais com os EUA.

Ao mesmo tempo, a moeda venezuelana supervalorizada elevava muito o valor em dólares das vendas, o que criava lucros mais altos, ao menos em termos nominais.

Agora o caos econômico da Venezuela está causando estrago, e as restrições a transações cambiais e uma forte desvalorização fizeram com que os lucros desabassem.

Desde a morte do veterano presidente Hugo Chávez, em março do ano passado, a crise econômica nesse grande país exportador de petróleo só cresceu. O novo presidente, Nicolás Maduro, não conseguiu desenvolver um conjunto coerente de políticas para conter a disparada da inflação e outros males, ainda que existam sinais de mudanças por acontecer.

"Creio que batemos no muro", diz Carlos Tejera, gerente-geral da Câmara de Comércio Venezuela-EUA. "Todas as indicações são de que as multinacionais terão de encarar com muita frieza o que está acontecendo e tomar uma decisão, porque a situação atual é insustentável."

A causa é a moeda do país, o bolívar. Companhias americanas contabilizam seu faturamento e lucro na Venezuela usando a taxa de câmbio ditada pelo governo.

A moeda do país passou anos supervalorizada, o que permitia registrar números fortes. A alta inflação (de cerca de 60% ao ano) também inflava os preços em bolívares cobrados pelas empresas.

Essas distorções podem ser vistas nos resultados financeiros da Femsa, maior engarrafadora de Coca-Cola da América Latina. No ano passado, a companhia reportou faturamento de US$ 2,4 bilhões na Venezuela, pouco superior ao registrado no Brasil, um país muito maior.

Mas o número de unidades vendidas foi duas ou três vezes mais alto no Brasil.

"É tudo prestidigitação", disse Jonathan Rosenthal, co-fundador do Newfoundland Capital Management, um fundo de hedge sediado em São Paulo que têm posições vendidas na Brink's e na Femsa, apostando que os preços das ações cairão.

Agora as empresas estão sentindo a dor de uma série de desvalorizações cambiais nos últimos 18 meses.

Primeiro o governo mudou a taxa de câmbio oficial de 4,30 bolívares/dólar para 6,30. Depois, criou três faixas de taxas de câmbio. A de 6,30 bolívares/dólar se destina à importação de bens essenciais (alimentos e remédios).

A de 10,50 bolívares/dólar está disponível para empresas que o governo convida a participar de leilões cambiais. E a terceira taxa, criada este ano, de 50 bolívares por dólar, supostamente estaria aberta a todas as empresas e pessoas físicas, mas o acesso vem sendo restrito.

Essas duas novas taxas flutuam ligeiramente.

A Brink's, por exemplo, registrou receita de US$ 447 milhões em 2013 e declarou que a Venezuela representava "componente significativo" de seus lucros operacionais.

Mas tudo mudou no final de março, quando passou a usar a taxa de câmbio de 50 bolívares/dólar. Em abril, avisou aos acionistas que a operação venezuelana não seria mais significativa na receita global nos meses seguintes.

Se a taxa de câmbio desvalorizada tivesse sido aplicada ao faturamento venezuelano em 2013, informou a Brink's, ele teria encolhido em 88% e o lucro operacional da empresa seria 31% mais baixo.


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