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Abrir economia não basta, diz líder da Finep

Para Glauco Arbix, que dirige instituição de fomento à inovação, faltam também foco, persistência e subsídios

Sociólogo defende política orientada para inovação, que leve em conta risco e envolva investidores e empresas

ÉRICA FRAGA MARIANA CARNEIRO DE SÃO PAULO

A abertura da economia é um passo importante para o desenvolvimento de um país, mas não é suficiente.

Para Glauco Arbix, presidente da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos, instituição de fomento à tecnologia e à inovação), sem a seleção de setores e a ajuda de subsídios, as empresas não fazem investimentos arriscados.

"Desenvolvimento não é destino. As nações que se desenvolveram utilizaram essas práticas de forma intensiva."

Embora defenda maior abertura da economia, Arbix critica economistas que acreditam que a "tecnologia e inovação são bens que podem ser encontrados no mercado". A seguir, os principais trechos de sua entrevista à Folha.

Folha - O governo vem incentivando a indústria e, mesmo assim, o setor está em crise. A política não está dando certo?
Glauco Arbix - Décadas de economia protegida geraram uma acomodação das empresas. Você não se livra dessa herança de uma hora para outra. Uma política com foco, recursos, prioridades, definição de áreas e é voltada para pesquisa e desenvolvimento está sendo feita agora pela primeira vez. O Brasil demorou de 2004 a 2014 para reaprender aquilo que já soube.

Por que demorou tanto?
É preciso persistência. O ambiente institucional não é amigável à inovação, há leis que precisam ser interpretadas e órgãos que interpretam as leis de uma maneira nem sempre clara. Para um salto efetivo, o Brasil não depende só de uma política de inovação ou de financiamento.

Por que é tão difícil mudar?
Porque tem sempre gente que ganha com o jeito que as coisas estão. Há um jogo de forças que esbarra no Congresso, nas instituições reconhecidas, nos cartórios, nas reservas de mercado. Todo mundo sabe que a gente precisa criar um sistema de registro de empresas em quatro, cinco dias como muitos outros países fazem. O nosso demora mais de cem dias.

Como isso pode mudar?
Quando cheguei à Finep, em 2011, a análise de um projeto [para financiamento] levava 454 dias. [Hoje] demora 30. Fizemos o que a economia brasileira precisa fazer: colocamos inteligência no processo. Fizemos acordos com instituições internacionais e, com eles, foram elaborados 86 indicadores de inovação.
Isso abreviou o trabalho dos analistas. [Hoje] qualquer empresário pode pedir empréstimo à Finep do seu smartphone, o que alterou a estrutura e as relações de poder dentro e fora da Finep.

Como estimular as empresas a buscar recursos para inovar?
Fazemos oficinas com as empresas antes de conceder o empréstimo. Muitas vezes, elas não conseguem traduzir o que querem. Mas o mais importante é que temos a oportunidade de questionar por que não estão avançando mais, para que tenham maior pretensão tecnológica.
É um trabalho de convencimento, pois as empresas nem sempre conseguem ver a tecnologia como parte dos caminhos para crescer.

Isso ocorre porque o mercado é protegido?
Estamos pagando o preço de 50 anos de economia fechada. As empresas brasileiras sempre viveram uma competição mutilada. E as multinacionais que vieram para cá transferem tecnologia a conta-gotas. Aprendemos a viver durante décadas com produtos de segunda.

Deveria haver mais abertura?
A economia brasileira ainda é muito fechada. A abertura agiliza o mercado, exige que as empresas respondam à competição com novos produtos e processos. Mas só a abertura não leva a lugar nenhum em termos de tecnologia. Em inovação, você tem que investir seletivamente, oferecer condições excepcionais, pois são áreas de risco.
Um dos grandes erros de alguns economistas é acreditar que tecnologia e inovação são bens como quaisquer outros. Isso é um engano gigantesco, porque o mundo inteiro tem políticas orientadas, seletivas e subsidiadas. Todas as nações que se desenvolveram se utilizaram dessas práticas de maneira intensiva. E o Brasil está chegando tarde.

Temem um corte do governo?
O governo é uma fonte inesgotável de surpresas.
A produtividade é a chave da economia brasileira. Podemos discutir se a questão primeira é a qualificação da mão de obra, mas esse é um processo que demora. A tecnologia é um processo mais rápido, mas mais complexo.
Misturá-la em um ambiente mais amigável às empresas, menos burocratizado, com mais agilidade é a fórmula que todo mundo vai atrás. Se Dilma ou outro candidato ganhar [as eleições], essa agenda terá que ser feita.

Leia a íntegra da entrevista
folha.com/no1485936


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