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Cooperativa cobra menos por item recusado pelo varejo
Iniciativa portuguesa atrai países interessados em combater desperdício; no Brasil, produtor nordestino aposta em fruta desidratada
Batatas deformadas, peras batidas e espinafres com as folhas levemente desbotadas. Tudo com um bom valor nutricional, apto para o consumo e pela metade do preço do varejo tradicional.
É assim que se faz compras nas feiras promovidas pela Fruta Feia, uma cooperativa de consumo criada há oito meses em Lisboa, Portugal.
Inconformada com a importância da aparência dos alimentos na escolha dos consumidores e com a influência da estética no desperdício, Isabel Soares idealizou um comércio de alimentos recusados pelo varejo.
"Essa lógica da ditadura da beleza foi imposta pelo consumidor, que escolhe sempre a fruta que brilha mais ou a mais redondinha. É preciso dar um basta nisso", diz a responsável pelo projeto.
Para comprar as frutas feias, os portugueses precisam se associar à cooperativa, pagando uma cota anual de € 5. Eles podem, então, frequentar as feiras e comprar dois tipos de cestas, de 4 ou 8 quilos, ao preço fixo de, respectivamente, € 3,50 e € 7.
"É mais ou menos metade do que custam no supermercado", diz. Desde dezembro, a Fruta Feia duplicou o número de associados, hoje em 420, e evitou o desperdício de 38 toneladas de alimentos.
"Temos 2.000 pessoas na lista de espera para se tornarem associados", diz Isabel. A cooperativa, que cresce com cautela, sempre buscando vender alimentos produzidos em regiões próximas das áreas onde são vendidos, também é um sucesso internacional. Isabel já foi procurada por profissionais que desejam levar a ideia a Brasil, Espanha, Itália e França.
Outra vantagem do modelo é possibilitar um incremento da renda ao agricultor, que antes mandava os alimentos "fora dos padrões" para o lixo. A cooperativa, que começou com oito agricultores, hoje já tem 32 fornecedores.
MAIS RENDA
No Brasil, produtores de frutas do Nordeste também decidiram transformar o desperdício em renda, com o apoio do Sebrae.
No povoado de Vila Retiro, próximo a Ilhéus, na Bahia, 28 famílias passaram a processar bananas e frutas da época para evitar que 70% da colheita fosse para o lixo. A produção do grupo Doce Retiro, como foi batizado, varia de 100 a 200 quilos de frutas desidratadas a cada 30 dias.
Segundo o vice-presidente do grupo, Aílton Bevenuto, o quilo da fruta "in natura" custa ao redor de R$ 0,80 na região. Desidratado, o valor do quilo sobe para R$ 20.
Já a Coopaita, cooperativa de produção de abacaxi em Itaberaba, na Bahia, consegue cobrar R$ 38 pelo quilo da fruta desidratada, de acordo com seu gerente, Gleidson Rocha Ramos.
Recentemente, o grupo, que começou a processar a fruta há três anos, recebeu autorização para fazer barrinhas de cereal com o abacaxi desidratado.