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Vinicius Torres Freire

Mais crédito com descrédito

BC deixa pingar um pouco de crédito; desconfiança na economia limita efeito de medida polêmica

NUM DIA, O BANCO Central afirmou que tão cedo não vai mexer nos juros. Selic em 11% a perder de vista, dólar sob controle e economia fraquinha seriam bastantes para levar a inflação para perto da meta lá pelo meio de 2016.

No dia seguinte, sexta-feira passada, o BC na prática permitiu que os bancos possam emprestar mais. Em tese, não faz muito sentido. O BC elevou os juros a fim de limitar crédito, consumo e investimento e, assim, conter a alta de preços, grosso modo.

Esse é o resumo da ópera vulgar cantada na sexta-feira, a ópera da malhação do BC pela maioria do comentarismo econômico. Apesar das árias exageradas, difícil discordar. Mas o pessoal do BC sabe muito bem de tudo isso, claro. Qual o sentido do que fizeram, então?

Foi liberada parte miúda do dinheiro que os bancos têm de deixar estacionado no BC ("depósitos compulsórios"). Tranca-se parte do dinheiro emprestável pelos bancos a fim de evitar excesso de crédito em tempos de euforia, o que pode dar em excesso de calotes, o que resultaria em estremecimento do mercado financeiro e, no limite desastroso, em crise bancária.

A princípio, regular a torneira do compulsório é prudência. Mas essa torneira também afeta o nível de crédito e a inflação. Como o BC dizia ao "mercado" em 2012, o compulsório não é um substituto dos juros para lidar com a inflação, mas não se pode calibrar o nível de juros sem levar em conta o efeito de medidas "prudenciais", de contenção de excessos de crédito e similares.

Em suma, a taxa de juros pode ser menor se for apertada a torneira do compulsório, o qual também tem o dom de esfriar a economia. Ou vice-versa, como agora.

Em 2010, o BC apertou a torneira. Seria preciso reabri-la, até porque compulsório demais cria ineficiências. Qual seria o melhor momento de relaxar? Quando houvesse outra euforia de crédito? Não. Agora, quando a inadimplência baixou, quando bancos e consumidores jogam na retranca, todos com as barbas de molho, dada a pane na economia? Talvez sim, diga-se a favor do BC.

Mas relaxar compulsório não vai na contramão da política de conter a inflação? Sim, em tese, mas nem o BC nem seus críticos sabem estimar o efeito da medida no crédito e preços. Dada o descrédito na economia, como agora, o efeito do relaxamento deve ser menor; o dinheiro liberado, enfim, foi pouco.

De menos incerto: parece que BC e governo querem irrigar os bancos menores, nos quais o crédito encolhe. Bancões maiores podem comprar empréstimos concedidos pelos bancos pequenos, que teriam assim espaço para voltar a emprestar mais (o BC aumentou a lista de bancos autorizados a vender seus créditos para bancões).

Haveria um pouco mais de crédito para médias empresas, compras de carros. Em maio, o governo pensou em fazer tal coisa (não o fez por veto do BC, dizia-se). O efeito concreto seria um remendo para a crise em nichos de mercado e um modo de evitar desastres vistosos, embora não remedie a pane geral da economia.

Este colunista escreveu na sexta que o governo praticamente fechara a lojinha de remendos. Só que não. Errou. O programa só acaba quando termina, dizia o Chacrinha.


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