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Aos 70, Bretton Woods carece de alternativa

Sistema de governança financeira precisa ser recauchutado, mas especialista é cético quanto a iniciativa dos Brics

Reforma do FMI está parada no Congresso dos EUA; falta de voz aos emergentes põe legitimidade em xeque

ISABEL FLECK DE NOVA YORK

Sete décadas após a reunião na cidade americana de Bretton Woods que deu origem ao Fundo Monetário Internacional e ao Banco Mundial, um novo banco de desenvolvimento foi criado pelos emergentes Brics com a promessa de se tornar alternativa às instituições do fim da Segunda Guerra.

Benn Steil, diretor de Economia Internacional do Council on Foreign Relations e autor do livro "The Battle of Bretton Woods" (A batalha de Bretton Woods), no entanto, se diz "cético". "Não é uma revolução no sistema monetário global", disse Steil à Folha por telefone.

Para o economista, a experiência de iniciativa semelhante na Ásia, onde "nenhum centavo jamais foi tocado" por restrições de acesso às reservas, podem se repetir no Arranjo Contingente de Reservas dos Brics.

Steil afirma que a modernização do sistema atual, derivado da reunião de julho de 1944, passa pela reforma do FMI acordada em 2010 e travada no Congresso dos EUA.

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Folha - Qual o principal problema hoje das instituições criadas em Bretton Woods?

Benn Steil - O FMI foi criado para fiscalizar um sistema com câmbio fixo, que não existe mais; o Banco Mundial, para ajudar a reconstrução da Europa após a guerra. O sistema monetário é completamente diferente hoje, e ainda há um problema de legitimidade dessas instituições. Hoje, os mercados emergentes desempenham um papel muito mais amplo na economia global, e uma reforma de governança é obviamente necessária.

Há um problema de caixa para FMI e Banco Mundial desempenharem bem suas funções?

Para muitas crises, o FMI é só uma parte da equação. Na zona do euro, por exemplo, o FMI é parte de uma troica. Se isso alivia problemas como o FMI não ter recursos suficientes para lidar com uma crise, por outro lado pode comprometer a sua independência.

O FMI reconheceu que erros consideráveis foram cometidos na crise da Grécia, e muito disso veio da pressão da União Europeia durante a reestruturação da dívida.

Em que momento o sistema começou a ser obsoleto?

Em agosto de 1971, quando o presidente Nixon determinou o fim da convertibilidade do dólar em ouro. Isso empurrou o FMI para uma crise de identidade existencial. Os EUA destruíram a base do sistema monetário que tinham criado em 1944 sem propor nada em seu lugar.

O que é preciso para modernizar o sistema atual?

O primeiro passo é a reforma do FMI acordada em 2010, que está parada no Congresso americano. A proposta dá aos mercados emergentes uma quota maior e mais poder de voto. Os grandes perdedores nesta reforma seriam as velhas potências europeias.

Diante do impasse com a reforma nos EUA, qual a opção?

Como os EUA têm poder de veto sobre mudanças estruturais no FMI, isso precisa passar pelo seu Congresso. E os congressistas republicanos têm sido céticos sobre o fundo desde a sua fundação.

O que representa a criação do novo banco dos Brics?

A Iniciativa de Chiang Mai [de 2010, entre Japão, China e países asiáticos] tem, em teoria, US$ 240 bilhões em reservas para momentos de crise. Nenhum centavo, porém, jamais foi tocado por causa das restrições de acesso, como a exigência de o país ter um acordo com o FMI para usar mais de 30% de sua quota. O mesmo foi estabelecido pelos Brics. Estou cético. Suspeito que se o Brasil entrar em dificuldades, a China não quererá assinar um cheque alto.

É possível considerar a criação do banco dos Brics um "novo Bretton Woods"?

Não é uma revolução no sistema monetário global nem na arquitetura de desenvolvimento. O presidente [russo Vladimir] Putin disse que o novo banco vai ajudar seus membros a se libertarem da hegemonia do dólar, mas 100% do capital inicial é em dólar. No caso do Banco Mundial, é 10%. O ministro [da Fazenda brasileiro] Guido Mantega elogiou o novo banco por ser "bastante democrático", mesmo com os cinco fundadores tendo ao menos 55% do poder de voto. No Banco Mundial, os 37 fundadores têm menos de 50%.

Qual a principal contribuição de Bretton Woods?

Primeiro, Bretton Woods deu um impulso para o papel do dólar no mundo. Depois, o fato de o FMI ter, a partir dos anos 80, despontado como um "bombeiro" de crises, apesar de seus fundadores nunca terem imaginado esse papel para ele. Na verdade, seria loucura em Bretton Woods o FMI ajudar [como ajudou agora] a Ucrânia, que é praticamente uma zona de guerra.


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