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Benjamin Steinbruch

Mais feliz!

Falar dos riscos de recessão não é semear o pessimismo, é apenas um alerta para os seus efeitos desastrosos

Levei um puxão de orelha de um leitor da Folha, que me enviou comentários sobre o artigo "Enquanto rolava a bola", publicado aqui há duas semanas. Ele se mostrava indignado com a afirmação de que o Brasil caminha para uma recessão.

"Recessão! Como assim? Se não temos sequer um trimestre de crescimento negativo!", dizia o leitor, observando que "a recessão econômica se caracteriza com o terceiro trimestre consecutivo de crescimento negativo". E concluía a mensagem assim:

"Esse absurdo vem coroar o pessimismo reinante (e proposital, parece) da mídia econômica, sabe-se lá com que intenções.

Alguém da Folha, a nossa ombudsman, jornalista Vera, ou o próprio sr. Steinbruch podem nos dizer a quem interessa espalhar essa falsa crise, essa profética mentira? Ao povo brasileiro com certeza não interessa a plantação de crises".

Devo dizer ao prezado leitor que concordo com ele a respeito do pessimismo exagerado da opinião pública. A situação do país não é tão crítica quanto se propala. A inflação é, sem dúvida, uma ameaça, mas está longe de se parecer com aquela dos anos 1980 e 1990.

A situação das contas externas, as que efetivamente quebram um país, está a léguas de distância de uma crise de balanço de pagamentos, como algumas que enfrentamos no passado recente. O Brasil tem, felizmente, reservas de quase US$ 400 bilhões, que o imunizam contra esse tipo de problema no momento.

Não posso concordar, porém, com a opinião a respeito do crescimento econômico. Primeiro, uma pequena correção: uma recessão técnica se caracteriza, segundo a maioria dos economistas, após dois trimestres de crescimento negativo. Mas isso é um detalhe. O importante, e que o leitor talvez não tenha percebido, é que a economia de fato caminha para uma fase de crescimento negativo. Alguns analistas já acham que o PIB poderá registrar queda no segundo e no terceiro trimestres, o que já indicaria um quadro de recessão técnica.

A mais recente estimativa sobre o crescimento mensal do PIB brasileiro, do IBC-Br, mostrou queda de produção de 0,18% em maio --em abril, segundo o mesmo indicador, a economia havia crescido 0,5%. Em junho, apesar da Copa, a atividade também continuou extremamente fraca. No setor industrial, houve queda de produção em março (-0,5%), abril (-0,5%) e maio (-0,5%).

Esses números são desanimadores. Mas não indicam que a recessão seja inevitável. Há medidas que podem mudar essa tendência, ainda que o país necessite de algumas reformas mais amplas para aumentar a competitividade geral da economia e permitir crescimento sustentável. Duas medidas urgentes são a redução da taxa básica de juros e o afrouxamento das restrições ao crédito --esta última já começou a ser ensaiada na semana passada.

Os juros de 11% ao ano, num mundo em que as taxas são negativas na maioria dos países, não têm mais nenhum efeito para conter a inflação, mas atingem de forma fulminante a atividade econômica, porque encarecem financiamentos e desestimulam investimentos produtivos.

Tanto quanto a inflação, a recessão é uma doença que precisa ser combatida com todas as armas, inclusive as preventivas. Nos seguidos anos de inflação relativamente baixa, as novas gerações de brasileiros perderam a noção de quão terríveis são os efeitos de um aumento alucinante de preços. Igualmente, após um bom período de crescimento econômico, ainda que nem sempre no ritmo desejado, tendemos todos a esquecer quão destruidores são os efeitos de uma recessão: trazem desemprego, desespero para os chefes de família e desagregação familiar.

Não há milagre que possa mudar muito a taxa de crescimento econômico de 2014. Os efeitos benéficos de qualquer medida só ocorrerão dentro de cinco ou seis meses. Mas é possível e necessário tentar inverter a tendência desde já.

Falar dos riscos de uma recessão não é semear o pessimismo, diferentemente do que sugere o prezado missivista. Trata-se de um alerta para aqueles que se esqueceram, no atual quadro de quase pleno emprego, dos efeitos desastrosos das recessões. Este brasileiro jamais se engajará em grupos que olham o país com derrotismo e pessimismo. Estará sempre do lado dos que lutam e torcem para que o Brasil seja melhor, mais rico, mais justo e mais feliz.


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