Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria
Por R$ 20,1 bi, Telefónica tenta de novo comprar GVT
Espanhola faz oferta à Vivendi por operadora que perdera em 2009 para franceses
Maior parte seria paga em dinheiro; a diferença seria em ações da Vivo e da Telecom Italia
O jogo das teles ficou mais embolado ontem com a oferta de R$ 20,1 bilhões da espanhola Telefónica, dona da líder Vivo no Brasil, pelo controle da GVT, empresa de internet e TV paga do grupo de mídia francês Vivendi.
Com a proposta, os espanhóis pretendem se fortalecer contra o avanço do bilionário mexicano Carlos Slim, dono da Claro, e acreditam resolver os problemas com o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), que impôs à Telefónica um novo sócio para a Vivo ou sua saída da Telecom Italia, dona da TIM, vice-líder no país.
Pela GVT os espanhóis ofereceram R$ 11,9 bilhões em dinheiro à vista. A diferença será dada em ações da Vivo, emitidas depois da "combinação" dos negócios. Não está claro se haverá uma fusão.
Em vez de só receber ações da Vivo, a Vivendi também poderá aceitar 8,3% em ações da Telecom Italia, ajudando a Telefónica a reduzir sua fatia na companhia italiana.
A Folha apurou que as negociações da Telefónica com a Vivendi se estendiam havia algumas semanas e se intensificaram devido ao avanço das conversas entre Vivendi e Telecom Italia em torno de uma fusão da GVT com a TIM.
Ainda segundo apurou a reportagem, alguns bancos de investimento foram contratados para um acordo entre italianos e franceses, mas ainda não havia uma negociação efetiva.
CONFLITOS
Para alguns acionistas da Telecom Italia, a oferta da Telefónica seria uma "reação" e um "insulto", porque prejudicaria a TIM, que tenta se fortalecer para evitar sua própria venda fatiada, algo que interessa à Telefónica, Claro e Oi, potenciais compradores.
Mas pessoas próximas às negociações dizem que a Telefónica quer se fortalecer fora de São Paulo na briga pelos clientes de alto poder aquisitivo --alvo para ofertas combinadas de TV, internet ultrarrápida fixa e telefonia.
Por isso, seria vantajosa a compra da GVT --que está em 150 cidades com rede de fibra óptica e tem 1,5 milhão de clientes das classes A e B.
A Vivendi informou que a GVT não está mais à venda, mas que avaliará a oferta. No passado, a Vivendi nem piscou por ofertas abaixo de R$ 19 bilhões, em dinheiro.
A relação entre as duas empresas nunca foi amistosa. Em 2009, elas disputaram o controle da GVT, que foi adquirida pela Vivendi por cerca de R$ 8 bilhões. O negócio foi contestado na CVM (Comissão de Valores Mobiliários) e acabou em uma multa de R$ 150 milhões à Vivendi. Na sequência, a Telefónica foi à Justiça contra a Vivendi.
SAÍDA
A oferta pela GVT está condicionada à aprovação das autoridades competentes, como o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica). No final do ano passado, o órgão aplicou uma multa de R$ 15 milhões contra a companhia espanhola por ter descumprido um acordo assinado em 2010. Esse acordo previa que a Telefónica não ampliaria sua participação na Telecom Italia, dona da TIM.
Naquele momento, a Telefónica tinha 46% da empresa Telco, maior acionista da Telecom Italia, com 22,4% de participação. Indiretamente, os espanhóis tinham 7% da TIM. Mas, como dividiam o controle da Vivo com a Portugal Telecom (PT), o Cade entendia que não havia riscos à competição no mercado.
Mas a Telefónica comprou a fatia da PT assumindo o controle da Vivo, e, em setembro de 2013, ampliou sua participação na Telco a 66%, passando, indiretamente, a ter 10% da TIM.
Resultado: o Cade aplicou a multa e determinou que a Telefónica buscasse um sócio para a Vivo ou saísse da Telecom Italia.
Com a oferta pela GVT, os espanhóis acreditam que poderão resolver seus imbróglios societários com o Cade.