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Entrevista Guido Mantega

Não adotaremos política heroica contra a inflação

Ministro defende ataque gradual à alta de preços e fala em estreitar banda da meta

FERNANDO RODRIGUES VALDO CRUZ DE BRASÍLIA

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirma que o governo da presidente Dilma Rousseff seguirá sua "política gradualista" de combate à inflação e explicou por que considera esse o melhor caminho, sem opção por uma "política heroica" ou um "tratamento de choque".

Em tom crítico e de condenação, numa entrevista à Folha e ao UOL, Mantega disse que seria fácil reduzir a inflação rapidamente no Brasil.

"É só colocar uma bala de canhão: chuta o juro para cima, a economia vai definhar, você vai ter recessão. Aí sim vai ter uma inflação baixa. Mas aí é a paz do cemitério."

Esse tipo de política "faria muito mal à economia e nós não faremos isso", disse Mantega. "Jamais jogaremos nas costas da população o ajuste da crise mundial."

Dentro de sua política gradualista, o ministro diz ser possível levar a inflação para o centro da meta, de 4,5%, em 2018, o último ano do mandato do próximo presidente.

Mantega promete uma novidade, já defendida por economistas de oposição: num eventual segundo mandato dilmista no Planalto, poderá reduzir a banda de flutuação do sistema de meta de inflação --hoje em dois pontos percentuais, para mais ou para menos. Dessa forma, a inflação anual teria de variar numa faixa mais estreita.

Ele rebate as críticas de que a inflação está contida artificialmente pelo represamento de preços. Afirma que, em sua avaliação, um tarifaço é "desnecessário".

Lembrado de que a própria estatal Petrobras reclama do represamento de preços da gasolina, o ministro diz que o governo tem aplicado reajustes duas vezes ao ano para o combustível. Em seguida, sinaliza que haverá reajuste neste ano: "Os preços vão subir".

-

Críticos da política econômica dizem que há necessidade de recomposição de tarifas. O sr. acha que em 2015 é ou não preciso fazer um "tarifaço"?

Guido Mantega - Se você me diz que os outros estão pensando que os preços estão represados, vai ver que eles têm intenção de dar um "tarifaço". Eu me preocupo. Eu afirmo que é desnecessário.

E qual é a estratégia de quem argumenta de forma oposta?

Não sei. Talvez seja uma leitura equivocada do que está acontecendo.

A oposição mente nesse caso?

Talvez tenham uma interpretação equivocada.

Além do mercado e da oposição, até a Petrobras reclama aumento de preços...

Para a Petrobras, o melhor seria o maior preço possível. Até um preço maior que lá fora. Quanto maior o preço, mais ela fatura. Só que achamos que a Petrobras tem que faturar pelo aumento de produção. E o aumento de produção está acontecendo.

É claro que tem que haver um equilíbrio. O aumento de preço não pode ser exagerado, porque senão causará prejuízos a todo mundo. Os preços vão subir.

A meta de inflação do Brasil é de 4,5% ao ano, com tolerância de dois pontos percentuais, para mais ou para menos. Se a presidente Dilma for reeleita, será preciso manter esses parâmetros até 2018?

Ao cabo de quatro anos dá perfeitamente para atingir o centro da meta.

Em 4,5%?

Dá para atingir o centro. E dá para diminuir também, digamos, a margem de elasticidade. Neste momento, não dá. Mas dá para fazer. Nós ainda temos indexação, ao longo desses quatro anos dá para diminuir a banda.

Seria uma redução da banda para 1,5 ou 1 ponto?

Não vou dizer. Não vou fixar agora, isso se faz no Conselho Monetário Nacional.

Mas o sr. acha exequível essa redução da banda de tolerância em quatro anos?

Em quatro anos é exequível. Mais que exequível, deve ser perseguido. Deve ser perseguida uma inflação menor.

Quem promete aos brasileiros uma taxa de inflação, em quatro anos, a partir de 2015, menor do que a meta atual de 4,5% está enganando?

Não está enganando, mas pode ter más intenções...

Que tipo de más intenções?

Subir muito a taxa de juros. Como combatiam a inflação no passado? Era assim: valoriza o câmbio e sobe violentamente a taxa de juros. Essa taxa de juros que nós temos é uma taxa de juros que garante a produção, que garante o comércio, o financiamento.

Já tivemos aqui no Brasil taxas de juros reais de 30% a 40%. Armínio Fraga praticou essas taxas. Tenho receio de que essa seja a política: dar um chute na taxa de juros. A taxa de juros vai diminuir a inflação causando uma recessão na economia, destruindo a economia.

O sr. imagina que essa política será aplicada [se a oposição vencer a eleição]?

Estou inferindo, não tenho certeza. Estão dizendo: vão reduzir a inflação na marra. Como é que faz? Uma das maneiras é gerando desemprego, por exemplo. Tem gente que acha que a inflação sobe no Brasil porque o mercado de trabalho é bom, porque tem pleno emprego, e os salários estão subindo. Você já sabe qual é a fórmula: vamos reduzir salários, vamos causar desemprego. Tem gente que acredita nisso.

Acha que farão isso?

É uma estratégia que os conservadores costumam praticar. "A inflação está alta, o que tem que fazer? Tem que reduzir o crescimento, diminuir o salário dos trabalhadores." Isso nós não faremos.

Jamais jogaremos nas costas da população o ajuste da crise mundial. Outros fariam isso. Por que você acha que caiu o salário na Europa inteira, nos EUA, e no Brasil não caiu? É um dos poucos países do mundo em que não caiu o salário. É por causa da estratégia econômica que temos, que é diferente.

Agora, se alguém entrar e quiser derrubar a inflação rapidamente, conseguirá. É só colocar uma bala de canhão, chuta o juro para cima, a economia vai definhar rapidamente, você vai ter recessão. Aí, sim, você vai ter uma inflação baixa. Mas aí é a paz do cemitério.

Em resumo, um eventual próximo mandato de Dilma terá a meta de inflação anual de 4,5%, que seria atingida só em 2018. Até lá seria possível estreitar a banda de tolerância de dois pontos. É isso?

Isso. Isso seria a política gradualista de combate à inflação.

O que digo é o seguinte: no curto prazo não faria nenhuma política heroica, nenhum choque, tratamento de choque. Tratamento de choque faz mal às economias. Tem gente que pensa assim: vou dar um tarifaço, vou subir a taxa de juros lá em cima. Isso faria muito mal à economia e nós não faremos isso.

E como será, nos próximos anos, a recomposição de preços públicos represados?

Há um equívoco em dizer que não há recomposição de preços. Posso citar aqui vários preços que aumentamos neste ano, remédios, plano de saúde, a loteria da Caixa, tarifa dos Correios e energia elétrica. Se você olhar na estatística, os preços administrados neste ano estão crescendo mais que em 2013.

Um colega seu, o ministro Aloizio Mercadante, reconheceu que o governo segura preços, para não punir a população por causa da seca. Há ou não represamento de preços?

A energia subiu em 12 meses mais de 12%. Se isso é represamento, não sei o que é aumento de preço.

Não há represamento. É só olhar o IPCA. Os preços administrados foram os que mais subiram.

E a gasolina?

Nós demos, desde 2011, dois reajustes por ano no preço da gasolina na refinaria. Preço monitorado não tem dois aumentos por ano.

Neste ano não teve aumento da gasolina, vai ter?

Não posso falar se vai ter ou não vai ter, ou quando. Só estou dizendo que todo ano tem aumento.

Mas é lícito supor que, até dezembro, haverá?

É lícito pensar sim.

O sr. deseja contribuir como ministro num próximo eventual mandato de Dilma?

Não é momento de pensar em próximo mandato.


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