Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Mercado

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Opinião - política econômica

Tripé da economia precisa de uma reforma

Meta de crescimento nominal do PIB é um aprimoramento da política mais interessante do que mero "resgate"

BRÁULIO BORGES ESPECIAL PARA A FOLHA

Diante dos resultados econômicos ruins nos últimos anos, tem sido cada vez mais frequente o clamor por um "resgate" do chamado tripé de política macroeconômica, introduzido em 1999 e consubstanciado no sistema de metas de inflação, no regime de câmbio flutuante e em uma política fiscal compatível com a sustentabilidade da dívida pública.

"Resgate", porque esse tripé teria sido excessivamente flexibilizado nos últimos anos --a inflação ficou sistematicamente mais perto do teto do que do centro da meta, o câmbio não seria mais flutuante e a política fiscal perdeu grande parte de sua credibilidade, em meio a manobras contábeis cada vez mais frequentes e nebulosas.

O pedido por um resgate parte do pressuposto de que o sistema de metas de inflação --em sua acepção mais "puro-sangue"-- já entregou, no passado, resultados econômicos bem melhores.

Diante disso, é mandatório olhar para os números: a tabela acima apresenta a evolução de alguns agregados macroeconômicos segmentados em três grandes períodos.

De cara, chama a atenção o fato de que, no período de 16 anos compreendido entre 1999 e 2014, a inflação medida pelo IPCA foi igual ou inferior ao centro da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional em apenas 4 (ou 25% do total).

Mesmo em sua "época de ouro" (2004 a 2008), o regime de metas de inflação brasileiro só foi exitoso em 2 dos 5 anos e a inflação média anual nesse período foi 0,7 ponto percentual superior ao centro médio da meta.

A tabela apresentada acima escancara o principal fator que permitiu esse maior êxito (apenas relativo) do sistema de metas em 2004-2008: a valorização cambial de cerca de 40% observada no acumulado desse período.

Tivesse o R$/US$ ficado estável entre o final de 2003 e o final de 2008, a alta média anual do IPCA em 2004-2008 teria sido de cerca de 6% --mesmo patamar de alta média anual que teria mostrado em 2009-2014 caso o R$/US$ não tivesse se depreciado em quase 25% no período (sobretudo de 2012 em diante).

Ou ainda: tivesse o R$/US$ se valorizado em outros 40% entre 2009 e 2014, o IPCA médio anual nesse período teria ficado próximo de 5% anuais (e não em 5,8%).

Quando o assunto é crescimento do PIB, a comparação entre as taxas de expansão do produto global e brasileiro entre esses três períodos deixa clara que a influência direta e indireta do ciclo econômico global foi muito importante para explicar o forte crescimento da economia brasileira em 2004-2008 comparativamente a 1999-2003 e a 2009-2014.

O crescimento mais forte de nossa economia em 2004-2008 só não gerou aceleração da inflação ante 1999-2003 por causa da valorização cambial e da reversão dos resultados da conta-corrente brasileira (de um superavit de quase 1% do PIB em 2003 para um deficit próximo a 2% do produto em 2008).

Feitas essas constatações, a questão que se coloca é se realmente faz sentido demandar um mero resgate ou se não seria mais pertinente falar em uma reforma do arcabouço de política monetária --até mesmo porque, desde 2007/2008, têm sido cada vez mais frequentes as críticas de vários economistas (no mercado e na academia) ao sistema de metas de inflação.

Uma proposta recente bem fundamentada teoricamente, apresentada pelos economistas Jeffrey Frankel e Pranjul Bhandari, chamou-me a atenção. Eles apontam que as economias emergentes deveriam considerar a adoção de metas de crescimento nominal para o PIB.

Segundo eles, essa meta alternativa tem claras vantagens comparativamente à meta de inflação, dentre as quais se destacam: i) menor risco de descumprimento da meta (e de perda de credibilidade da política monetária), já que a variação do PIB nominal combina duas variáveis (crescimento real do PIB e inflação) que podem caminhar em sentidos opostos diante de choques; e ii) maior maleabilidade para absorver choques de oferta e de mudanças de termos de troca (fenômenos bem mais frequentes em economias emergentes do que nas centrais), reduzindo o espaço para reações pró-cíclicas.

Nesse contexto, a definição de uma meta de crescimento nominal do PIB me parece ser um aprimoramento de política econômica mais interessante do que um mero "resgate"...


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página