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Fora da caixa

Dois brasileiros anônimos ganham cerca de US$ 2,5 milhões e atraem 5 bilhões de cliques no YouTube desembalando e descrevendo brinquedos

MARIANA BARBOSA DE SÃO PAULO

Com unhas pintadas de cores cintilantes, anel no polegar e uma voz infantilizada falando inglês com sotaque, uma brasileira radicada nos EUA se transformou em um intrigante fenômeno no YouTube, com vídeos assistidos mais de 3 bilhões de vezes.

Nos últimos sete dias até a última sexta-feira (19), o canal DisneyCollectorBR foi o segundo mais visitado no Youtube. Os vídeos que mostram brinquedos com personagens de desenhos animados foram vistos 67,9 milhões de vezes no período.

O canal de maior audiência do YouTube, da gravadora EMI, teve 40,8 milhões de visitas na última semana.

Assim como seu parceiro, também brasileiro e produtor do canal BluCollector, especializado em brinquedos dos personagens do filme "Carros" e que contabiliza 1,9 bilhão de views, a srta. DisneyCollectorBR não mostra a cara nem revela a identidade.

Nem para a reportagem da Folha, que enviou inúmeras mensagens com pedidos de entrevista, nem para a sua audiência cativa, formada basicamente por crianças menores de quatro anos dos EUA.

Os dois canais fazem parte de uma categoria crescente no YouTube, conhecida por "unboxing" [desempacotamento]. São pessoas que tiram um produto da caixa --geralmente com o áudio do papelão e do plásticos sendo rasgados-- e o descrevem.

A prática já virou verbete na Wikipédia e é mais usada para apresentar aparelhos tecnológicos. Mas há "unboxing" das mais variadas categorias: tênis, bolsas de marca, canetas e brinquedos.

A ideia é apresentar o produto sem maquiagem nem Photoshop. Mas as marcas descobriram o filão e agora distribuem produtos a blogueiros, em uma ação comercial nem sempre explícita.

A Folha perguntou para a Disney se a empresa oferece produtos à dupla de brasileiros, mas não obteve resposta. A Nickelodeon, cujos personagens também aparecem no canal, disse não ter contato com os dois.

Sobretudo para uma geração que vê no YouTube um meio rápido para fama e dinheiro, o anonimato dos brasileiros é um mistério.

No mês passado, uma repórter do "New York Times, cuja filha é "viciada" em DisneyCollector, diz ter conseguido trocar um único e breve email com a brasileira e que ela se apresentou como Melissa Lima, 21 anos, moradora no stado de Nova York.

Antes disso, nos comentários de um post do blog americano Frantic Mama sobre a identidade da dupla, uma pessoa que se apresenta como Daniel disse ser amigo dos dois criadores, que eles são brasileiros, vivem na Florida e se chamam Vera e Messias Credidio, de 43 e 44 anos.

ZONA CINZENTA

Para o publicitário Marcelo Tripoli, diretor criativo da SapientNitro, os canais estão em uma "zona cinzenta", o que explicaria o anonimato.

"Quando um consumidor posta um vídeo citando uma marca, é mídia espontânea e a marca agradece. Mas quando a marca percebe que o canal está ganhando dinheiro em cima dela, ela normalmente entra com processo para tirá-lo do ar", diz.

Isso pode explicar também a opção de faturar só com a publicidade gerada automaticamente pelo YouTube, com base na audiência, sem fazer parcerias diretas com marcas (como faz o humorístico Porta dos Fundos, por exemplo).

O blog SocialBlade, que mede audiência de canais do YouTube, calcula em US$ 1,8 milhão o faturamento anual da DisneyCollector com publicidade. O do BluCollection é estimado em US$ 668 mil.

Na esteira dos brasileiros, surgiram outros canais com a mesma proposta --mas com música no lugar da descrição oral dos brinquedos. Esses canais, porém, ficam atrás em audiência, o que tem gerado especulações em blogs de pais de "viciados em DisneyCollector" de que talvez o sucesso esteja na voz da moça.

Para o diretor de audiovisual para crianças Pichi Martirani, há outra explicação: pais negligentes que usam os canais como babá eletrônica.

"O vídeo pode ser uma boa ferramenta para estimular a criança a desenvolver suas potencialidade e desvendar o mundo. Mas a negligência dos pais permite que filhos se viciem em vídeos que apenas hipnotizam para o consumo."


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