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Ex-chefe da Oi vive suspense de auditoria

Operação de empréstimo que culminou em pedido de demissão de Zeinal Bava é investigada na Portugal Telecom

De volta a Portugal, executivo receberá € 5 milhões após demissão, mas ainda não sabe rumo de sua carreira

JULIO WIZIACK DE SÃO PAULO

O inferno astral de Zeinal Bava, que completa 49 anos no próximo sábado, está longe de terminar.

O ex-presidente da Oi renunciou ao cargo na terça (7), embarcou para Lisboa na quarta e aguarda até o final do mês o resultado de uma auditoria nas contas da Portugal Telecom (PT) que pode responsabilizá-lo por irregularidades na operação do empréstimo de € 897 milhões da PT a uma empresa-sócia no Grupo Espírito Santo, um dos principais acionistas da tele.

A operação, ocorrida quando Bava já era presidente da Oi, e não mais da PT, prejudicou o processo de junção entre as duas operadoras de telefonia e custou-lhe a confiança dos controladores brasileiros e portugueses.

Sua defesa continua sendo um mantra que ele não se cansa de repetir: "Eu não sabia dessa operação". Mas ele também acredita na força do ditado lusitano que "o que não mata mói". Bava acabou moído.

A Folha tentou ouvi-lo após a demissão, mas ele preferiu não comentar.

Em Lisboa, onde ficou a família enquanto ele levou adiante a fusão da Oi com a Portugal Telecom, Bava não sabe o que fará agora e nega rumores de que esteja planejando comprar, com fundos de investimento, os ativos da PT em Portugal --o que ajudaria a recuperar sua imagem no país, onde até o primeiro-ministro faz críticas à fusão.

RETROSPECTIVA

Os últimos dias de Zeinal Bava na Oi não foram fáceis. A presença do filho mais velho, que estudava no Rio de Janeiro, aliviava um pouco a distância da família.

Mas, recentemente, o primogênito concluiu o curso e voltou para a Europa.

Bava fez poucos amigos na Oi. O presidente do conselho da operadora, José Mauro Carneiro da Cunha, era um dos poucos que recebia o executivo moçambicano em casa e o fazia se sentir acolhido.

O isolamento de Bava piorou a partir do dia 20 de setembro, quando veículos de imprensa brasileiros davam como certa sua demissão. Mas a pressão mais forte partiu de um sócio brasileiro da Oi, que o acuou ao dizer que já sabiam de sua responsabilidade na operação de "empréstimo" bilionário da PT à empresa do Espírito Santo.

Ainda segundo apurou a reportagem, os sócios brasileiros e portugueses não sabiam da operação do "empréstimo", que não foi pago. Para não comprometer a fusão, essa dívida foi convertida em ações que ficarão em tesouraria (fora de circulação).

O problema é que, como a dívida é elevada, a Oi extrapolou o teto de 10% de ações em tesouraria e precisou pedir autorização da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). A decisão ainda não saiu.

Bava não participou das discussões que antecederam as negociações entre os sócios após a descoberta da operação de "empréstimo". A fusão quase não saiu do jeito previamente combinado --o que exigiria submeter os documentos novamente às autoridades.

No final, os portugueses concordaram em reduzir sua participação, que será recuperada até que a dívida seja paga. Os brasileiros queriam restringir até os poderes dos portugueses nas decisões, mas eles foram mantidos.

Resultado: Bava também perdeu força entre os sócios portugueses.

A frágil situação do presidente da Oi chegou até entre os executivos da Telecom Italia, com quem o BTG Pactual e o próprio Bava mantêm conversas em torno da compra da TIM ou de uma fusão com a operadora.

Os italianos passaram a dar mais atenção aos representantes do BTG, que teria autoridade para as negociações. Diante disso, Bava decidiu antecipar a saída com um pedido de demissão.

Para a Oi, isso significou economizar € 10 milhões (R$30,5 milhões). Caso fosse demitido, algo que estava previsto para novembro, Bava teria direito a uma multa de € 15 milhões.

O executivo acabou fechando um acordo em que receberá € 5 milhões em 36 vezes com a obrigação de não atuar no mercado de telecom no Brasil em três anos.

Para a Oi, pode ser o melhor cenário. A auditoria na PT deve ser concluída no final deste mês e, caso se confirmem as acusações, Bava e os demais executivos da empresa podem sofrer processos por "enganarem" o mercado. É um risco que os acionistas da Oi (brasileiros e portugueses) não queriam --e não podiam-- correr.


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